Joel Marinho
Entre letras e versos
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O ITINERÁRIO DE UMA CIDADE GRANDE E A FALTA DE RESPEITO
Somos tão engraçados, nós, os seres humanos! Rezamos, oramos, fazemos ritos de passagem em qualquer religião, buscamos um deus invisível, acreditamos em coisas do além, respeitamos tudo isso e muitas vezes não conseguimos ter o respeito a nós próprios e aos outros como seres humanos.
Somos capazes de nos comovermos com a morte de um ser humano tão distante – coisa normal nos comovermos pelo próximo – mas incapazes de nos comovermos pelo nosso vizinho que passa fome a nossa direita ou esquerda ou até coisa mais simples, levantarmos a um(a) idoso(a) e doarmos sua cadeira dentro de um coletivo.
Pois bem, a minha intenção aqui é justamente falar dessa situação, fiz uma explanação mais filosófica para que o leitor situe as ideias e acompanhe o meu raciocínio.
Na correria do dia a dia andando de coletivo pela cidade grande observamos cada situação. E vou falar da minha situação que é corriqueira e já se tornou hábito, diria eu, virou cultura, infelizmente, na cidade de Manaus.
Para quem é de fora da cidade ou do Estado talvez não entenda as siglas, mas vou explicar.
Local: T1, T2, T3, T4, T5, o “T” é de terminal de integração e os números são as numerações dos mesmos.
Então, mas o que me chama bastante a atenção nesses “terfernais”? A falta de respeito que muitas vezes se compara com a falta de humanidade.
Dia desses no T4, quando o ônibus que faz o itinerário para onde eu trabalho (062) chegou. E quando ele para eu fico com inveja da organização dos bovinos quando entram a tardinha na volta do pasto em seu curral, local do descanso depois de um dia todo em busca de comida. E fico com inveja porque tenho razão, os bois não se machucam tanto para entrar no curral, nem trocam palavrões entre si pela disputa de um espaço onde possam se sentar.
Nessa ocasião vi um senhor sendo arrastado alguns metros pendurado no ônibus quando seu pé escorregou, após uns gritos o motorista parou e o senhor desceu para procurar sua sandália, seria de praxe que o próprio motorista saísse de seu lugar e fosse acudir aquela alma cansada para ao menos saber se tinha se machucado, a gravidade do seu tombo.
Que nada, seguiu sua rotina como se nada tivesse acontecido, enquanto isso no interior do coletivo as pessoas assustada com as outras escondem celulares e carteiras com medo de serem furtadas. Os que estão sentados independentes da idade com raríssimas exceções levantam para dar lugar aos idosos, gestantes e pessoas com necessidades especiais, como manda a lei orgânica do município.
É um deus nos acuda a cada viagem. Quando a porta se abre são empurrões, cotoveladas, xingamentos, palavrões e tudo isso ocorre de forma “normal”, na mais perfeita “harmonia” de uma normalidade que dói nos olhos e cega a mentalidade. E sabe o que é pior: ao longo do tempo já vamos nos normatizando com aquilo e também achando ser normal, a vontade de deus.
Mas que deus em sua sã consciência acharia aquela desordem total? Sei lá!
A única explicação óbvia que me vem à cabeça racionalmente é pensar, nós, os seres humanos como animais, mas os animais são irracionais e cometem coisas que jamais cometeríamos, não sabem o que são regras, não discernem o bem do mal, fazem coisas bestiais, não conhecem o poder divino, são desprovidos de inteligência, enfim....
Mas pensando bem, como eu gostaria que fossemos moldados dentro do reino irracional e respeitássemos uns aos outros e tivéssemos ao menos o mesmo nível da organização dos macacos, os quais de forma orquestrada respeitam sua sociedade e muitas vezes se aproximam mais do conceito de humanos do que muitos pertencentes a nossa sociedade.
A racionalidade e contradição humana são uma faca de dois gumes, ao mesmo tempo que pensa leis para organizar-se socialmente cria artifícios para fugir das mesmas e assim transforma seu habitat em uma bagunça total, mas o pior que ele se encontra dentro dessa bagunça e passa a achar estranho quando alguém tenta retirar aquela rotina.
Enquanto isso, segue a rotina de mais um dia de trabalho e itinerário sem a mínima noção de que um dia isso venha a melhorar ou não, talvez se tivéssemos mais ônibus, mas sobretudo se mudássemos nosso comportamento e respeitássemos a lei e acima de tudo a nós mesmos como seres humanos racionais que somos ou ao menos deveríamos ser.
                                                                                

Joel Marinho
Enviado por Joel Marinho em 06/09/2018
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