Às seis horas da manhã
Tomo a primeira dose de veneno
Maldito despertador me acorda
Para eu levantar está dizendo.
Meu café recheado com agrotóxico
É a minha primeira refeição
No almoço mais um pouco de agrotóxico
Misturado ao arroz e ao feijão.
Ao sair e respirar na rua
Recebo uma baforada de dióxido de carbono
As buzinas dos carros me tiram a paz
E eu deito pra dormir, mas perco o sono.
Ligo a TV para ver se disfarço as mazelas
Porém o noticiário me deixa mais preocupado
Vejo o sangue descer nos cantos do televisor
Delírio ou realidade? Morreu mais um soldado.
Seja do crime organizado ou do Estado
Não importa, morreu mais um ser humano
Mas minha sensibilidade já não mais existe
Fecho os olhos e sonho com o final do ano.
Papai Noel batendo a porta com suas renas
Quem se importa com as dívidas do passado?
Compramos para alimentar o comércio
E alimentar o ego tão despedaçado.
Para sair da poluição vou para as redes sociais
Recebo a imagem de alguém morrendo
Abaixo da imagem leio um kkkkkkkkk
De alguém se divertindo com o crime horrendo.
E assim me embriago com todo esse veneno
Às vezes tento fugir para um lugar de paz
Mas aonde eu for há sempre mais veneno
E alguém dizendo, tome um pouquinho mais!
Ah, mas a vida não é só reclamação
Ingerimos também um pouco de felicidade
Em meio a tudo isso ainda há amor
Há satisfação, há paz, há amizade. JOEL MARINHO