O CABRA MAIS MENTIROSO DO MUNDO
POR JOEL MARINHO
Meu caro leitor amigo
Debruço-me neste momento
Para narrar essa história
Tudo é real, não invento
De um cabra mentiroso
Safado e muito ardiloso
Roubava até pensamento.
Nasceu no dia da “mentira”
Em primeiro de abril
O ano ninguém se lembra
Sua identidade sumiu
Por volta dos seus dez anos
Deu ao pai e a mãe um “cano”
Depois do roubo fugiu.
Seu nome ficou José
Era mais um Zé no mundo
Num mundo de tantos “Zés”
De “Antonios” e “Raimundos”
Ganhou ele um apelido
Chamado “Nariz Comprido”
Ou simples “Zé Vagabundo”.
Quando Zé fugiu de casa
Levando a grana dos pais
Ainda era criança
Já aprontava demais
Enchia a cara de cana
E gastou dos pais a grana
Ó “filho de satanás”.
Por volta dos treze anos
Caiu a primeira vez
Roubou uma bicicleta
E acabou no xadrez
Falou para o delegado
Ser o pai juiz formado
E a prisão se desfez.
E no meio a confusão
Daquele depoimento
Houve uma gritaria
E aproveitando o momento
Que o delegado distraiu
“Nariz Comprido” fugiu
Mais veloz do que o vento.
Chegou em uma fazenda
Veja só como é que pode
Zé então se apresentou
Como vaqueiro de bode
E pediu ao fazendeiro
Dar a ele um paradeiro
Por favor, senhor, me acode!
Mas meio desconfiado
Perguntou o fazendeiro
De onde é que tu vem?
Com esse jeito desordeiro
Disse ele, meu patrão
Eu venho lá do sertão
Aonde eu virei “bodeiro”.
A minha História, senhor
Se quiser posso contar
Mas contei ao carroceiro
E fiz o burro chorar
Se quiser ouvir eu conto
Não pense você que apronto
Eu só quero trabalhar.
Puxou o fazendeiro um banco
Disse, conte sua História
Estou aqui só ouvidos
Faça fluir a memória
Conte e não me esconda nada
Mas sem conversa fiada
Ponha a angústia pra fora.
Então, senhor eu nasci
No dia de São José
Nunca tive um sobrenome
Todos me chamam de Zé
Meus pais morreram queimados
Naquele maldito roçado
Veja a desgraça que é.
Eu só tinha cinco anos
Fui levado a doação
Me levou uma família
Mais ruim do que o cão
Eu ainda tenho trauma
Maldita dor em minh’alma
O barulho do facão.
Era com que me batia
Aquele meu novo “pai”
Apanhei que só jumento
Quanto mais dizia ai
Com mais raiva ele batia
Fosse noite ou fosse dia
De lembrar a lágrima cai.
E quando ia falando
Zé chorava de verdade
O fazendeiro abraçou
Com muita sinceridade
Com os olhos cheios de lágrimas
Disse para Zé, te acalma!
Vá dormir que já é tarde.
Amanhã pelas seis horas
Temos que estar de pé
O emprego já é seu
Não fique triste, José
Se fizer tudo certinho
Ganhará teu dinheirinho
E um nome se quiser.
“Nariz Comprido” saiu
Deitou na rede e pensou
Foi mais fácil que pensei
Esse besta acreditou
Vou cuidar dessa fazenda
E mais tarde eu roubo a renda
Dormiu pensando e sonhou.
No outro dia cedinho
Antes das seis da manhã
Estava ele de pé
Com sua ideia não sã
De dar um golpe e fugir
Para distante dali
Morder a sua maçã.
Depois de um mês de trabalho
Tangendo bodes e cabras
Zé com pensamento fixo
Com aquela ideia macabra
De roubar o fazendeiro
E levar todo o dinheiro
Antes que a verdade abra.
No domingo de manhã
O patrão foi para a missa
Cresceu no “Nariz Comprido”
Uma enorme cobiça
Aproveitou a fraqueza
E fez na casa a “limpeza”
Mais um caso de justiça.
O fazendeiro chegou
E viu que fora roubado
Chamou os outros peões
E saiu desesperado
Procurando o tal Zé
Que tinha dado no pé
Levando todo o ordenado.
Foi como se abrisse o chão
Sumiu o “Zé” mentiroso
Parecia até visagem
Ou história de trancoso
O fazendeiro adoeceu
E em poucos dias morreu
Em pé num canto raivoso.
Nisso a fama foi crescendo
Do tal de “Nariz Comprido”
Na lábia virou a lenda
Tornou-se “grande” bandido
Levava carro e jumento
Roubava até pensamento
E se tornou conhecido.
Mas era tão labioso
Que enganava delegado
Até juízes caíam
Naqueles papos furados
Uma vez o presidente
Bateu com ele de frente
E no final foi roubado.
Mas como os seres humanos
Tem direito ao perdão
Veja o que aconteceu
Com aquele infeliz ladrão
Um dia veio a verdade
Lhe dando a liberdade
Tirando-lhe da “prisão”.
Meus amigos, vejam só
O Zé se “arrependeu”
Depois de mentiras e roubos
Ele enfim se converteu
Vive a fazer pregação
Na esquina e no “busão”
Virou um “homem de Deus”.
Acabou-se o velho homem
E nasceu um homem novo
Agora fiquei sabendo
Que virou o “Zé do Ovo”
Já está afiliado
E vem como deputado
Pelo Partido do Povo.
E você aí pensando
Que o Zé tinha mudado
Na verdade ele mudou
Porque quer ser deputado
Criou sua própria igreja
E está nessa peleja
De mentir sem ser julgado.
Já diz o velho ditado
Que o pau que nasce torto
Mesmo depois de caído
Sendo já ele um pau morto
Até a cinza sai torta
Não há saída sem porta
Nem barco sem água e porto.
E igual a “Nariz Comprido”
Tem tantos “Zés” vagabundos
Nas igrejas e na política
Enganando a todo mundo
Só andam em carros bacanas
Até a “burra” de grana
E o povo no submundo.
Qando disse no começo
Que estou falando a verdade
Com certeza você conhece
Um “Zé” desse em sua cidade
Nas igrejas ou na política
Essa raça sifilítica
Herdeiros da falsidade.
Vou por hora terminado
Porém prometo voltar
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E pode até comentar
Fique a vontade leitor
Meu grande incentivador
Faz esse poeta sonhar.