TERROR NA NOITE ESCURA
POR JOEL MARINHO
Uma vez por mês a lua ficava tão “fina no” povoado de Urubatuna ao ponto de praticamente desaparecer e assim o escuro abraçava toda a população com uma sisudez inexplicável, não se via um palmo diante do nariz como dizia a população local.
Isaac, o filho mais velho de Angelina e Tonhão passou a ter pesadelo naqueles dias de extrema escuridão, mas os pais de uma forma rude nunca deram ouvidos a criança, sempre diziam que era falta de Deus ou que ele estava precisando levar umas porradas para aprender a virar homem de verdade.
Aos dez anos de idade, Isaac teve um sonho terrível naquela noite escura de dezembro. Descia sobre ele um monstro sufocando sua respiração, era como se o universo inteiro estivesse caindo sobre ele em uma espécie de nuvem escura. Acordou aos gritos e Tonhão não aguentando mais aquele desespero pegou um cinto de couro e desferiu diversas cintadas em Isaac, tendo que engolir o desespero do sonho e o medo de apanhar ainda mais.
Daquele dia em diante Isaac trancou-se dentro de si como uma concha a proteger sua pérola. Tornou-se cabisbaixo e de pouca fala. Seus pais começaram a ficar preocupados com aquela situação, enquanto os vizinhos diziam ser coisa de verminose, logo apareceram “médicos” de todos os lados para medicar ou diagnosticar o garoto.
O tempo passou e todos os meses no dia em que a lua praticamente sumia de vista a escuridão tomava conta do povoado e Isaac tinha que enfrentar sozinho àqueles terríveis pesadelos que cada vez vinha maior e incontrolável. Ouvia a voz de seu pai que dizia:
- Aprende a ser macho moleque! Deixa de ser “maricas”!
A voz do pai se misturava as vozes que a escuridão trazia em forma de monstro.
O monstro dizia a ele:
- Teu pai é teu inimigo, teu pai é teu pesadelo, mata-o, mata-o, mata-o seu covarde!
Poucos dias que completou quinze anos de idade, era o mês de março, caía uma chuva torrencial sobre o povoado de Urubatuna, naquela noite parece que a escuridão havia se tornado mais feroz e Isaac já se deitara às dezoito horas com medo do monstro maldito.
Dormiu rapidamente, coisa que não costumava fazer com frequência, geralmente levava muito tempo para poder pegar no sono.
Os trovões e raios que ali barulhavam fundiu-se ao sonho de Isaac. De repente viu cair sobre si a escuridão entrecortada pelos raios e em seguida os barulhos ensurdecedores dos trovões. Com a incidência dos raios o garoto via surgir um monstro terrível com enormes dentes esguichando sangue entre eles.
Isaac pensou gritar, mas lembrava de seu pai dizendo para aguentar e virar macho.
A cada raio um esguicho de sangue entre os dentes dos vários monstros que apareciam de ambos os lados, até “brotavam” debaixo de sua cama.
Cobriu-se totalmente com o cobertor e ficou ali chorando um choro contido pelo medo do monstro e do pai, de repente apagou totalmente do sonho.
Na manhã seguinte acordou todo imobilizado com umas fitas vermelhas e cheio de luzes sobre ele. Tentou se mexer e não conseguiu, tentou falar e a língua parecia não ter domínio dentro da boca, era como se tivesse experimentado um montão de drogas ao mesmo tempo.
Sentiu uma agulhada e apagou novamente. Acordou no outro dia de manhã já um pouco menos grogue e quis saber o que estava acontecendo com ele, onde estavam seus pais e seus dois irmãos, Angélica e Irinaldo.
Com apenas um lado dos braços solto uma enfermeira chegou até ele e mostrou a capa de um jornal local com destaque em negrito que dizia:
- ADOLESCENTE MONSTRO MATA TODA A FAMÍLIA!
Abriu o jornal e estava escrito:
- Adolescente surtou com os raios e trovões, assassinou seus pais e seus irmãos com requintes de crueldade e depois envolveu os corpos com gasolina queimando-os juntamente com a casa da família. Encontrado próximo da cena sentado e com uma marreta nas mãos, provavelmente a arma a qual usou para causar essa catástrofe sorria e dizia: - Eu sou macho meu pai!
Isaac foi transferido para a cidade mais próxima e passou a fazer parte da ala psiquiátrica do único hospital psiquiátrico daquela região e nunca teve condição psicológica para sair daquela situação, nenhum parente assumiu a responsabilidade por ele e todos os psiquiatras e psicólogos temiam que sua saída pudesse causar novos ataques para outras pessoas, mesmo que seu quadro tenha melhorado bastante depois de alguns meses.