CONVERSA DE “DOIS MALUCOS”
POR JOEL MARINHO
Andava de um lado para o outro sem parar, de vez em quando torcia o enorme bigode negro que mais parecia às asas de uma andorinha voando para se livrar do seu predador, ora com as mãos para trás, ora gesticulava com as mãos para frente como se estivesse em uma discussão político-filosófica tentando provar que suas ideias eram as mais acertadas para o seguimento de uma nova sociedade.
Sem saber quem era aquele homem e o que estava falando, Josafá se aproximou para tentar entender tanta energia.
Aproximou-se e não viu mais ninguém além do próprio homem falando palavras desconexas, porém com aquele olhar e gesticular firme.
- Bom dia, senhor, falou Josafá!
Como se estivesse em transe o homem continuou seu “discurso” sem dar o mínimo de atenção àquele estranho que acabara de falar consigo.
Zangado, Josafá falou:
- Seu bruto ignorante, falei bom dia!
Nenhuma resposta, nenhum olhar ao desconhecido que acabara de chegar.
Então percebendo que falara com alguém em surto, Josafá saiu envergonhado, porém com grandes dúvidas: o que pessoas como aquele homem aos quais encontramos todos os dias pelas ruas conversando aparentemente sozinhas estão realmente dizendo? Com quem realmente estão falando? Tem nexo essas conversas na cabeça deles?
- Afinal, qual a divisão entre a sanidade e aquilo que chamamos de loucura?
Essas perguntas passaram a acompanhar Josafá que jamais soube qual era o teor daquele “monólogo” tão acirrado entre o homem desconhecido e a própria mente dele.
A única coisa que Josafá conseguiu entender foi um verso:
“Mediante ao infinito universo quem sou eu
Um grão minúsculo de areia diante a terra
Um ser humanovivendo em constante guerra
Seria eu filho do homem ou filho de Deus?”.
Josafá passou a declamar aquele verso e conversar sozinho pelas ruas a partir daquele momento tentando entender até onde vai o limite da sanidade e o princípio da loucura.
Dizem que Josafá não conseguiu de fato ainda descobrir esse limite, porém hoje em dia já conversa com aquele homem desconhecido, só não sabemos se ambos se entendem, pois cada um fala para si mesmo, apesar de muitas vezes estarem os dois em um único ambiente.
Ou será que eles conseguiram se compreender e somos nós que não os compreendemos?