HISTÓRIA DO CARNAVAL
POR JOEL MARINHO
Um pouquinho de história
Não fará mal a ninguém
Aliás, só acrescenta.
Informa-nos e faz bem
Mantém a mente ativada
Sem pensar em presepada
Vem ler a História também.
A que agora vou narrar
É a história do carnaval
O que muita gente pensa
Ser do Brasil natural
Porém vem de mais distante
Esse mundo mirabolante
Na Grécia do bacanal.
E se formos mais além
A Babilônia e seu legado
As Sacéias celebravam
Um “negócio” complicado
Um prisioneiro assumia
Do seu rei a galhardia
Pra depois ser enforcado.
Assumia o papel do rei
Com toda soberania
Comendo a melhor comida
Com suas esposas dormia
No final chicoteado
Enforcado ou empalado
Levando ao povo alegria.
Ainda na Mesopotâmia
Havia outro “babado”
Em frente à estátua de Marduk
O rei no templo era surrado
Pra mostrar à divindade
Que ele era de verdade
O único deus cultuado.
Já podemos perceber
Sem cometer escarcéu
Que a festa do carnaval
É a troca do papel
O rei perde a majestade
O ladrão fica a vontade
Porém tem um fim cruel.
A festa foi associada
As bacanais greco-romana
Onde Dionísio ou Baco
Daquela forma sacana
Liberava vinho e prazer
Era orgia pra valer
O grego a mim não engana.
O que Roma herdou dos gregos
Tocou fogo na fornalha
Em dezembro a primeira festa
Conhecido por Saturnália
A segunda era fevereiro
Esperado o ano inteiro
Chamada de Lupercália.
A Saturnália comemorava
O solstício do inverno
A Lupercália comemorava
As divindades do inferno
Mas também purificação
Com alegria e emoção
Um novo ano “fraterno”.
Tais festas duravam dias
Com comida, bebida e dança
Os papéis eram invertidos
Era uma grande lambança
O senhor “virava” escravo
Escravo andava a cavalo
Com espírito de esperança.
Mas quando a festa acabava
Esse filme você já viu
Peia no lombo do pobre
Feio e de bucho vazio
Talvez me diga poeta,
Faço papel de pateta?
Isso é atual no Brasil.
Sim, fazemos esse papel
Você, eu, nós brasileiros
Enquanto o furdunço ocorre
Gente vinda do estrangeiro
Nossos políticos enchem os bolsos
Comendo o melhor almoço
Você toma velho barreiro.
Mas ao menos você esquece
Um pouco as suas mazelas
Esqueceu-se daquela chuva
Que destruiu sua favela
E começa um novo ano
Com promessas e enganos
E uma vida de sequelas.
Mas deixemos nossa miséria
Pra falar de outro “babado”
Como que o cristianismo
Foi aos poucos dominado
E aceitou o carnaval
Mesmo chamando de mal
De mundano e exagerado.
Em trezentos e oitenta
Os cristãos cresceram em soma
No Édito de Tessalônica
Teodósio disse, toma!
E assim sem nenhum cinismo
Tornou o cristianismo
Única religião de Roma.
No entanto, nós sabemos
O que é que acontece
Com o encontro de culturas
Outra cultura aparece
Costumes são sincretizados
Porém costumes passados
Às vezes nunca se esquece.
Depois da queda de Roma
No período medieval
A Igreja se tornou dona
De um poder descomunal
E com todo esse poder
Tentou então reverter
A festa de carnaval.
Porém encontrou trabalho
E travou algumas guerras
Muito sangue derramado
Que avermelhava a terra
Depois teve que ceder
Porém veio o proceder
Que até hoje não se encerra.
Acreditava a Igreja
Que os papéis invertidos
O Diabo “virava” Deus
Daí tudo era perdido
Imagina Deus de rabo
Fazendo coisas do Diabo
Tudo perdia o sentido.
E durante a Idade Média
Quando vinha a fertilidade
Os homens se travestiam
Pelos campos e cidade
Rompendo as estruturas
Para uma boa agricultura
Faziam sagacidade.
Pra ressignificar
A Quaresma foi criada
Assim vinha o carnaval
Com a “carne” cultuada,
Vinha depois o jejum
E os pecados um por um
Morriam na “encruzilhada”.
Também o tempo de festa
Foi muito diminuído
Passando para três dias
De muito vinho bebido
Nada de festa de um mês
Porém no Brasil talvez
Isso ainda faz sentido.
E por falar em Brasil
Como foi que o carnaval
Atravessou o Atlântico
E chegou aqui afinal
Pelas naus do português
Aportou aqui de vez
Foi um sucesso total.
O escravo se apropriou
Ressignificando outra vez
Do Intrudo uma brincadeira
Trazida pelo português
Saiam às ruas se sujando
Urina e lama se jogando
De uma forma não cortês.
Em pleno século dezenove
O Intrudo foi proibido
Mesmo assim continuou
De um jeitinho escondido
Até meado do século vinte
Perdendo assim o requinte
Nascendo outros sentidos.
Surgiram Escolas de Samba
Afoxés, Maracatu,
Frevos e também marchinhas
Pessoas com o corpo nu
Os blocos fazendo a farra
Onde as pessoas se agarram
Como lama em tatu.
E que aqui fique claro
Jamais faço julgamentos
Cada um na sua praia
Não quero causar tormento
Quem gosta do carnaval
Dance e beba o seu “mingau”
Solte o corpo e o pensamento.
Eu fico na minha praia
O meu bloco é em casa
Deitado na minha rede
Aonde eu mando brasa
Com meu sonho de ser poeta
Escrever é o que completa
O voo para minhas asas.
Desde sempre essa festa
É controle social
São três dias que o povo
Esquece que passa mal
Enchem o bucho de cana
Gasta o restinho da grana
Nesse tal de carnaval.
Esquecem suas mazelas
Nessa festa de circo e pão
Enquanto os “nobres” políticos
Escoam pelo ladrão
Nesses dias todos esquecem
Das desgraças que padecem
Nesse mar de “união”.
No entanto, no mês seguinte
Chega logo à desgraça
A conta do cartão de crédito
Quase tudo de cachaça
E passa o resto do ano
Enxugando gelo com pano
E ao lado nenhum parça.
Eu vou por aqui ficando
Porque o sono bateu
Espero sinceramente
Que essa História tu aprendeu
O carnaval que era “pagão”
Ganhou o mundo “cristão”
E deixou de ser “ateu”.
É por isso que carnaval
É também símbolo de resistência
Até a Grande Igreja
Sofreu dele a influência
Teve que se adaptar
Dançou sem saber dançar
Pra não ter mais consequências.
Aqui deixo o meu abraço
Desse poeta amador
Que com ou sem carnaval
A História um pouco estudou
Não me julguem por errado
Pra não ser excomungado
Por um padre ou por pastor.
Porém se me excomungar
Não estou nem preocupado
Faço sozinho meu bloco
E salto logo de lado
Tenho medo é de "cristão"
Que anda com a Bíblia na mão
E tem os outros julgados.
Obrigado pela belíssima interação, poeta Jacó Filho.
Sobre tal festa pagã,/
É tua a melhor escrita./
Das festas, a mais bonita,/
Com as moças sem sutiã.../
Homens parecem mulher,/
Com pouco samba no pé,/
Esquecidos do amanhã..