DIGAM QUE ISSO É MENTIRA!
POR JOEL MARINHO
Mil novecentos e oitenta e quatro
Ecoava a “Diretas Já!”
Cobria-se de verde amarelo
A multidão a desfilar
Viva a nossa liberdade!
Todos vão poder votar.
Tudo era novidade
As bandeiras tremulando
Era como uma corrente
Que estava apertando
Ali quebravam os grilhões
E a felicidade chegando.
No ano de oitenta e oito
Enfim a Constituição
Os brasileiros felizes
Para a nova eleição
Que vinha no ano seguinte
E todos com títulos nas mãos.
Era a primeira vez
Depois de vinte e poucos anos
Que o brasileiro escolhia
O chefe para o comando
Sem o tal do AI5
Que ainda estava ecoando.
Já se vão trinta e seis anos
Foi tanta luta e sacrifício
Muito spray de pimenta
Dos militares de serviço
Mas o Brasil se juntou
Todos em um só compromisso.
Todos diziam, passou!
Agora vêm novos dias
De criarmos uma nação
Um pouco menos arredia
Enganou-se quem pensou
Que uma nação nascia.
O ano é dois mil e vinte
E o grito de “liberdade”
É de um viva ao AI5!
O que vi e ouvi é verdade?
Penso eu que estou delirando
Ou estou vendo miragem.
Mas como diz minha avó
Se o doente pede canja
Então dê canja ao doente
E de galinha da granja
Se o povo quer o AI5
O AI5 se arranja.
Eu já vou calando a boca
Tenho medo de pau de arara
Choque elétrico, queimaduras,
Até pelo que não se fala
Eu tenho medo de peia
Ou ser “desovado” na vala.
Por isso, cala-te boca!
Antes dos “homens fechar”
O Congresso e minha boca
Pra eu mais nada falar
Vou fechar meu pensamento
Sou proibido pensar.
E você caro amigo
Que gritou, volta à ditadura!
Quanto fizer passeata
Reclamando de tortura
Esqueci, sem passeata!
Se gritar alguém te mata
E tu que cava a sepultura.