Joel Marinho
Entre letras e versos
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BIG BROTHER BRASIL 20
Por Joel Marinho
Era o ano 2002, primeira edição do Big Brother Brasil, com dezoito anos a menos e não tendo outras opções de diversão eu assistia diariamente àquela programação nova da Rede Globo de televisão vendo o Cleber Bambam conversando com a boneca Maria Eugênia. Confesso que gostava de ver depois da novela um novo nível de fofoca em rede nacional.
 A partir da segunda edição eu já fui perdendo o interesse pela coisa e depois me desinteressei de vez e até assistir televisão fiquei cerca de quase dez anos sem ver programação, aliás, quando a de casa queimou não fiz nenhum esforça para comprar outra.
Depois de um tempo passei a morar sozinho e o meu interesse por TV ficou ainda mais limitado, fui viver com uns amigos e amigas de trabalho numa espécie de “comunidade” e lá tinha uma televisão velhinha, não lembro se algum dia eu tentei ligar para ver um programa. Depois fui morar sozinho e durante mais de um ano não comprei televisão. Enfim resolvi (como diz minha avó, juntar os panos de bunda novamente) e por incrível que pareça a pessoa tinha a mesma opinião que eu, mas como veio a copa do mundo resolvemos comprar uma TV que mais servia pra decoração do quarto que para assistir alguma programação, agora bem mais usada por conta desse tal coronavírus.
Pois bem, foi esse tal de coronavírus que trouxe a maior desgraça para o mundo que “me fez” assistir algumas vezes o tal do BBB 20. Para a minha surpresa não mudou quase nada, apenas o apresentador, mas as fofocas são as mesmas, talvez por se tratar de humanos “enjaulados”.
Dessa vez, porém vi uma torcida expressiva e bem mais “politizada”, não no sentido político em si, talvez a palavra mais correta fosse polarizada. Criaram-se dois polos bem diferentes ao nível da torcida política a qual tivemos na ultima eleição para presidente do Brasil, mostrando claramente que o Brasil na verdade é formado por dois ou mais brasis.
No final deu a participante Thelma, não lembro o sobrenome dela e nem assisti essa final pelo fato do pouco interesse, talvez pelo descostume a não assistir essas programações, enfim, não tive vontade naquele dia e não assisti, mas como historiador que sou e ligado nas questões sociais que se desenrolam nos nossos tempos passei a perceber em perfis, status e escritas nas redes sociais o quanto parte dos brasileiros lavaram a alma com a vitória. Foi como se tivesse tido uma final de jogo de futebol, digno de uma Libertadores da América.
Mas o que me chamou a atenção foi ver uma participante afrodescendente ganhando o programa. Das vinte edições apenas Jean Willys, 2005, havia sido o único afrodescendente a vencer o programa.
Mas enfim, como uma população brasileira que tem em sua formação uma grande parte de afrodescendentes, cerca de quase metade da população apenas dois em vinte edições chegarem e vencerem a final? E por que não há tanta participação de afros nesse reality show da globo? Seria porque os afrodescendentes não querem participar ou porque há um critério de escolha excluindo essas pessoas? Bem, eu não sei!
O que me ficou provado é que parece ter havido um despertar de milhões de pessoas no Brasil nessa votação e acabaram escolhendo a Thelma como vencedora. Eu sinceramente não me importo qual a cor vai ganhar o Big Brother ou qualquer outra competição, o que mais me importa seria ver todos os brasileiros, sem nenhuma exceção tivesse ao nível de igualdade de competir uns com os outros, seja em um reality show, seja na busca de empregos, ou seja, nas disputas políticas, independentes de serem homens héteros, brancos ou negros, mulheres héteros, brancas ou negras, LGBTI (independente de cor).
Mas ao que parece esse nível de igualdade seria ainda uma utopia e talvez sempre seja apenas uma utopia minha, mesmo que eu ainda credite acontecer um dia. Porém se olharmos os vinte programas do Big Brother Brasil tivemos bem menos afrodescendentes ou indígenas do que branco isso me prova que a cor ainda é um critério de escolha.
Não, que é isso, isso não é verdade!
Então olhemos os perfis dos nossos representantes políticos. A maioria é formada por homens e brancos.
Que é isso, mas tem mulheres também!
Só olhar a quantidade. As estatísticas não mentem.
Não, tu estás querendo mexer com a estrutura do nosso país!
Ah, também se achar que isso é pouco relevante olhem para as estatísticas de presos no Brasil.
Como assim? Mas a maioria do brasileiro não é formada por pessoas brancas e como assim a maioria dos presos é preta?
Então, foram mais de trezentos anos de escravidão e a Lei Áurea de 1888, parece ter dado apenas a liberdade, mas liberdade sem oportunidade é como jogar alguém no meio do oceano Atlântico sem nenhuma boia ou tábua a qual possa ter a mínima chance de se salvar e dizer: pronto, você está livre, nade bastante que daqui a um mês você chega a alguma ilha deserta e lá pode fincar moradia, ela é sua, isso se alguém não chegar e lhe tomar.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Joel Marinho
Enviado por Joel Marinho em 29/04/2020
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