POSSIBILIDADE ESTATÍSTICA
Por entre a grade da janela
vejo o mundo lá fora
E eu feito um pássaro preso na gaiola
Tenho uma contemplação limitada do todo,
O todo possível aos seres humanos
Dentro já de minhas próprias limitações humana.
O bom dia aos vizinhos e colegas de trabalho
ficaram tão distantes
Apesar de às vezes estarem tão pertos.
Apenas uma tela é o condutor
e repositor de mim e do outro,
E, digamos, ela é a única salvadora dos meus dias,
Em que a solidão e o vazio me tomam
E doma um pouco da angústia e tristeza
Que invade a minha alma
E entorpece meu ser.
Deitado em meu quarto vejo
pela televisão, celular ou computador
a dor e as lágrimas
De quem perdeu um ente querido
E o que a outros aflige,
Aflige a mim também.
Coloco-me no lugar do outro
E se fosse um familiar meu?
Alguns amigos já se foram
Deixando-me saudades
E o sentimento de impotência.
De repente os planos de vida
A viagem planejada
Ficaram para trás.
Sei que vai passar, sim, vai!
Mas o que será depois de mim?
E o impacto de pensar
Que talvez pudesse ser eu
Na possibilidade estatística
E apenas umas poucas lembranças
E talvez...saudades
Àqueles que me amaram.
E eu sem o privilégio
de uma última contemplação
No mundo de fora
Tal qual pássaro em liberdade
E não preso na gaiola.
Mas por enquanto
Eu contemplo da minha janela
O verde crescendo
E os pássaros cantando.
Bem, isso me alegra.
JOEL MARINHO