SOBRE O FUTURO
POR JOEL MARINHO
Eu até penso no futuro, mas ele pouco me interessa! Vejo gente correndo com pressa para encontrá-lo e abraçar a felicidade, isso a mim é apenas miragem.
Quando ouço alguém falar em construir um legado de coisas aleatórias e de valor apenas monetário, penso comigo: coitado! Será que está achando-se imortal?
Já outros dizem: “estou construindo para quando meus filhos crescerem ter como sobreviver sem dor, não passar pelo que passei”. Esses eu até entendo, mas pouco compreendo.
Entendo pelo simples fato de eu também ser pai, mas não os compreendo a pessoa por não pensar que só construiu ou vai construir tudo o que quer por ter passado as agruras da vida, por ter sentido a dor e talvez tudo isso só faça sentido pela luta travada. Será que seus filhos saberão a dor de uma mão calejada ou uma coluna desviada? Será que meus filhos saberão dar valor a dor dos meus choros e desesperos de madrugada para ter uma posição na sociedade e umas poucas posses?
Eu até penso no futuro, mas ele pouco me interessa! Bem, até me interessa, porém não com a mesma intensidade o qual me desperta o presente.
Gosto de pensar no futuro dos meus filhos e netos, de como farão para merecer as vitórias. Por eles faço e farei o que posso dentro das minhas possibilidades, porém jamais pensei em deixar grandes legados no sentido monetário, único legado o qual pretendo deixar é o respeito ao ser humano e os exemplos de lutas para conquistar os sonhos, a educação como forma de humanização e a certeza de que todo ser humano não veio para o mundo apenas para ser levado nas costas, a existência de cada um de nós com toda certeza tem um sentido e individualmente todos necessitam buscar esse sentido de forma solitária, mesmo precisando de apoio por um tempo de outrem.
Dessa maneira penso o futuro como algo inexistente para mim, pois toda a minha energia está pautada no meu presente, na atual circunstância do meu respirar e do meu pensar. E quando o futuro aos meus filhos e netos chegar estarei deitado no chão frio e acima de mim apenas uma lápide com os escritos, “aqui jaz”, vou estar em paz e com a certeza de ter agido do modo mais acertado possível, sem deixar um mar de dinheiro e criar uma intriga familiar eterna na qual haveria a necessidade de advogados e justiça para a partilha. Que seja repartido apenas a maneira como eu sonhei em vida.
Não, o que eu quero é a união e, todos desfrutando daquilo o qual lutou e buscou conquistar e ainda se orgulhem de mim por não ter os prendidos na ilusão do “já tenho” sem a dor e o sabor da conquista.
E para finalizar. Tudo o que tenho é apenas uma fração de segundo e por isso não pertenço ao futuro. Dessa forma não me martirizo com a ideia de “o que vai acontecer amanhã”, isso me traria mais rugas e sofrimentos e de rugas eu já tenho o bastante natural da minha idade.
Fico observando quem corre desesperado pelo futuro que não o pertence e esquece-se de viver o bem mais precioso, o presente e quem desperdiça o seu presente não é merecedor de recebê-lo de graça, acaba desenvolvendo uma ansiedade e mesmo que ainda respire está morto em seu tempo tentando viver algo o qual jamais conseguirá ter, o futuro.
A vida parece ter três tempos, passado, presente e futuro, porém se fizermos uma análise bem básica vamos perceber que na verdade só há um tempo, esse exato momento em que eu escrevo e o exato momento no qual você está lendo, o passado é um país estrangeiro e o futuro apenas uma ilusão de ótica, um oásis jamais alcançado.