A MENINA E O PINGUIM ALBINO
AUTOR: JOEL MARINHO
A história que vou contar
Parece nem ser verdade,
Porém afirmo que é
Falo com sinceridade
Que eu nunca havia visto
Tão grande e bela amizade
Nicole sempre sonhou
Da Antártida conhecer
Isso surgiu muito cedo
Quando aprendeu a ler
Sua paixão, os pinguins
Que queria muito ver.
Ao completar onze anos
Nicole participou
De um sorteio que dava
Uma viagem ao ganhador
Pra qualquer lugar do mundo
E foi ela quem ganhou.
Ainda dava o direito
De ter um acompanhante
Ela escolheu sua mãe
Desde o primeiro instante
E quis ir para a Antártida
Aquele sonho distante.
Ela foi toda a viagem
Somente em pinguim falando
A todo minuto estava
A sua mãe perguntando
E os comportamentos deles
Em um livro pesquisando.
Ao chegar em Punta Arenas
Já queria ir direto
Porém o guia falou
Temos um grande trajeto
Só amanhã de manhã
Seu sonho será concreto.
Aquela noite foi longa
Nicole quase não dormiu
Viu entrar pela janela
O primeiro raio que surgiu
Não queria nem café
E nem sequer sentiu frio.
Entraram no avião
O guia deu os comandos
Nome por nome ele foi
Devagarinho chamando
Nicole toda contente
O seu momento esperando.
E lá se foram ao ar
Tum tum do coração
Da menina curiosa
Dentro daquele avião
Só queria um pinguim
Poder tê-lo em suas mãos.
Uma das primeiras falas
Proferida pelo guia
Jamais poder trazer nada
Daquela geleira fria
Sob pena de ser preso
E ter noites de agonia.
A viagem foi tão longa
Aquele avião foi voando
De cima Nicole olhava
A2 paisagem mudando
Ela mal acreditava
No que os olhos iam mirando.
Quando o avião pousou
Naquele branco infinito
Próximo de uma colônia
De um branco e preto bonito
Aqueles pinguins cantando
Mais belo até que os Beatles.
Nicole não se conteve
Com tamanha emoção
Era tanto preto e branco
Espalhados pelo chão
Que ela saiu correndo
Da sua mãe soltou a mão.
E com o passar das horas
Mais coisa ia descobrindo
E em cada novidade
Seus olhos iam sorrindo
Nem na imaginação
Tinha visto algo mais lindo.
No finalzinho da tarde
Bem próximo já da partida
Ela escapuliu do grupo
Numa geleira escondida
Viu um ovo de pinguim
E arriscou sua “vida”.
Pegou rápido e escondeu
Dentro do seu agasalho
E o pinguim reclamou
Como se passasse um ralho
Ela então roubou o ovo
Tal qual ladrão de baralho.
E foram todos chamados
Pra dentro do avião
As mochilas revistadas
Com tamanha precisão
E aquele ovo apertado
Nas dobras do seu blusão.
Toda a viagem de volta
Manteve-se ali quietinha
Sua mãe logo estranhou
Porém pensou, coitadinha!
Está tão emocionada
Que voltou bem caladinha.
No hotel ela escondeu
Na mala bem no fundinho
Aquele bendito ovo
Enrolado com carinho
Dentro de um lençol macio
Para ficar bem quentinho.
E na volta para casa
No olhar apreensão
A mãe até percebeu
E chamou sua atenção
– O que foi que aconteceu?
– Disse ela, nada não!
Quando em casa chegaram
A menina fez questão
De desarrumar as malas
Que fez com muita atenção
Pegou o ovo e guardou
Debaixo do seu colchão.
Como tinha um quintal grande
Sua mãe criava galinhas
Ela então pegou o ovo
E escondeu lá na casinha
Dentro de um ninho quentinho
Da galinha pintadinha.
Todo dia bem cedinho
Corria pra ver o ninho
Nem sinal de que nascia
Não surgia nenhum pontinho
Ela já desconfiava
Ter morrido o pinguinzinho.
Um dia pela manhã
Como estava acostumada
Ela correu para o ninho
E no meio da ninhada
Nasceram vários pintinhos,
Mas o pinguinzinho nada.
Nicole muito tristonha
Em desistir logo pensou
Do meio de alguns pintinhos
Aquele ovo pegou
Quis jogar para distante
No entanto, ela hesitou.
Saiu andando pra casa
Com o ovo em sua mão
Entrou no quarto e deitou
Para ver televisão
Pôs o ovo ali na cama
Sem prestar muita atenção.
Ligada em um desenho
Nem ouvia as bicadas
Vindo de dentro do ovo
Daquela ave danada
Quando ela percebeu
Quase ficou petrificada.
Ainda pensou ajudar
Porém lembrou do que leu
Para não interferir
Ela então retrocedeu
E ficou admirando
Aquela obra de “Deus”.
Depois de alguns sofrimentos
De bicadas e muitos pios
A cabeça do pinguim
Como mágica surgiu
E dos olhos de Camila
De lágrima jorrava um rio.
Ela estranhou do pinguim
A sua coloração
Ele era muito branco
Porém com tanta emoção
Ela resolveu chama-lo
Pelo nome de Algodão.
Por alguns dias escondeu
O Algodão em seu quarto
Todos os dias levava
Uma sardinha no prato
Sempre com a porta fechada
Para não entrar o gato.
Sua mãe há muitos dias
De algo desconfiava
Alguma coisa esquisita
A menina aprontava
Porque Nicole jamais
No seu quarto almoçava.
Então no dia seguinte
A filha pegou o prato
E dentro duas sardinhas
Entrou e fechou o quarto
Sua mãe sorrateiramente
Ficou na espreita tal gato.
Ouviu no quarto uns gritos
Esquisitos, diferentes
Ela então percebeu
Não era grito de gente
Que presepada é essa?
Pensava em sua mente.
Quando Nicole, contente
A porta do quarto abriu
Deu de cara com a mãe
De costas quase caiu
Quis correr, mas não podia
Quis chorar, porém sorriu.
O que diabos é isso?
Sua mãe interrogou
Que bicho é esse, menina?
Como foi que isso chegou?
Calma, mamãe eu explico!
Nicole enfim falou.
E contou toda a história
Do pequenino pinguim
Sua mãe atarantada
Com uma reação ruim
Se fôssemos pegos já era
A cadeia era pra mim.
Depois de levar uma bronca
Bem maior que o próprio mundo
Sua mãe disse, e agora?
Me responda num segundo
Como é que vai criar
Esse pinguim vagabundo.
Isso precisa de gelo
E também muita comida
Vamos doar ao Parque Aquático
E dar a ele boa vida
Em casa não dá pra ser
Não vejo outra saída.
Nicole levou um choque
Não tinha pensado nisso
Nem tinha analisado
Como daria serviço
Então concordou com a mãe
E selaram um compromisso.
Foram ao Parque Aquático
E contaram a História
Lá entregaram o pinguim
O tratador quase chora
Com o choro de Nicole
Na hora de ir embora.
Deram então para ela
Passe livre para entrar
Todo dia se quisesse
Para tentar acalmar
E foi assim que ela pode
Pra sua casa voltar.
E depois daquele dia
Todos os dias ela ia
E com o passar do tempo
Aquele pinguim crescia
Porém o preto das costas
É que não aparecia.
No Parque todos amaram
Essa linda novidade
Os dois ficaram famosos
Em toda aquela cidade
A menina e o pinguim
Se transformaram em beldades.
Ela ganhou uma bolsa
Para no Parque estudar
Especificamente pinguins
Ela ia pesquisar
Além de tudo podia
Do Algodãozinho cuidar.
Aquela linda amizade
Entre o pinguim e a menina
Tornou-se tão fortemente
Que parecia até sina
Nunca se vira na História
Uma amizade que ensina.
No estudo descobriu
Que Algodão era albino
Uma condição muito rara
Do seu pinguim inquilino
Ele era especial
Um carinha muito fino.
O Parque ficava cheio
Pra ver o nobre Algodão
Ele comia sardinha
Somente daquelas mãos
Que lhe trouxe da Antártida
Para sua bela missão.
E foi assim que Nicole
Se tornou pesquisadora
Tornando sua missão
Dos pinguins ser protetoras
Criou no Parque uma escola
Quando se tornou doutora.
Com vinte anos de idade
Algodão ficou doente
Fizeram o que podiam
Pra livrarem da corrente
Da maldita e dura morte
Que destrói animal e gente.
No último dia de vida
Nicole estendeu os braços
Ele ainda andou faceiro
Mesmo nítido seu cansaço
Subiu no peito da “mãe”
Pedindo seu último abraço.
Ali ficou ofegante
Sumindo a respiração
Nicole estava entre lágrimas
Dando a última atenção
Findava-se uma História
De amor e emoção.
No Parque teve uma placa
Prestando última homenagem
Do pinguim que alegrou
Toda aquela cidade
Naquela placa dizia
Lembrança de uma amizade.
Nicole ficou de luto
Pela perda do amigo
Lembranças quando criança
Daquele grande perigo
Faria tudo de novo
Roubava aquele ovo
E trazia ele consigo.