A PALAVRA HOJE É “SAUDADES”, MAS TAMBÉM DOR, ANGÚSTIA E DESESPERO (nossos monstros do dia a dia)
AUTOR: JOEL MARINHO
Eu não conheço Saudade, nem sabia se existia no Brasil uma cidade com esse nome e, sinceramente eu preferia jamais ter tido o conhecimento de que existia esse lugar se fosse para ela continuar na sua “pacacidade” de paz, alegria e amor.
Hoje em meio a tanta dor o Brasil inteiro descobriu da pior maneira a existência dessa pacata cidade após a morte de cinco pessoas, entre elas três crianças que nem tinham consciência se estavam nesse mundo, não tiveram tempo de entender o que é maldade e já se depararam com essa forma tão cruel do ser humano. E as duas funcionárias que talvez jamais pensaram ser um dia agredidas e mortas assim dentro de um local aparentemente tão tranquilo.
Pois é, quem espera um ato extremamente violento como esse numa creche, em um berçário sem nenhuma reação a quem quer que o ataque? Enfim, poderíamos dizer que seria improvável alguém em sua mais extrema loucura atacar seres humanos altamente indefesos.
Ainda há os defensores das armas nas redes sociais com o velho papo “psiquiátrico” dizendo: “mas se as professoras tivessem armadas ele não teria feito isso, elas teriam mandado bala no “vagabundo”. Ledo engano do ponto de vista de segurança. O grande exemplo são os Estados Unidos, um dos países mais armados do mundo e é justamente onde acontece em maioria absoluta esse tipo de crime. Outro fator primordial, professores e professoras não tem função de matar, mas de transmitir conhecimento e amor, no caso de uma creche mais amor. Enfim, essa não seria a solução.
E qual seria a solução? Se soubéssemos esse tipo de crime não aconteceria mais!
Em nossa indignação julgamos (com razão?) e por vemos desferimos nosso ódio ao matador: “vagabundo, bandido, desumano, monstro”, entre outros adjetivos usados freneticamente nesse momento de consternação e dor.
Aliás, já se fala em cancelamento, pedido de pena de morte, entre outros.
Ah, tá com pena, leva ele para tua casa, defende vagabundo é vagabundo também.
Longe de mim ir em defesa de quem fez um crime tão cruel e com imensa barbaridade, apenas olhando o fato com um segundo de discernimento, mesmo que com enorme emoção pelas vidas ceifadas, não apenas cinco, mas deveras seis.
Sim, seis vidas, pois a dele que cometeu a barbaridade já não existe mais há muito tempo. E o que aconteceu? Só com o desenrolar das investigações vamos saber, ou não.
Mas em algum lugar no passado ele se perdeu. Culpa dele? Culpa de alguém? Como disse, talvez saberemos.
Então que a justiça seja feita!
Que justiça?
A prisão, a morte física dele? Do que isso importa agora? Ele já não existe mais, talvez não existe há muito tempo mesmo estando ali na casa dos pais. Os próprios pais o classificaram de “tranquilão” e por essa aparente tranquilidade talvez não prestaram a atenção para aquela mente inquieta e com tanto sofrimento.
Agora veio o baque, o surto, o susto.
Como assim, aquele jovem tão tranquilo que trabalhava teve a coragem de praticar tamanha atrocidade?
Pois é, nós temos medo dos monstros dos contos de fadas, aqueles que surgem externamente com caudas compridas e lança na ponta, olhões vermelhos e boca cuspindo fogo queimando e destruindo tudo a sua volta. Sim, temos medo desses monstros e esquecemos do monstro que está guardado dentro de cada um de nós.
Ah não, mas eu jamais faria algo dessa natureza, eu sou humano e não um monstro desse!
Eis um ponto de partida para um grande debate, todos os seres humanos que cometeram crimes assim vêm de uma mesma natureza, a natureza humana e nós estamos dentro dessa natureza sujeito a erros, acertos e surtos.
Então vamos perdoar quem faz esse tipo de coisa? A resposta seria rápida, grossa e sintética: NÃO!
Vamos matar em praça pública todos os que fizerem esse tipo de atrocidade: mais uma vez a resposta é NÃO!
O que deveríamos matar seria a nossa própria ignorância de nós mesmo, cuidar mais dos que amamos, dos nossos conhecidos e termos muito mais cordialidade e respeito aos desconhecidos.
Deveríamos matar os nossos preconceitos, falar mais com o outro e sobretudo, ouvir mais a angústia de quem tem a contar, aprimorarmos mais essa dádiva da escuta e das boas palavras.
Afinal de contas, um “monstro” não surge em uma fração de segundos, eles surgem devagar e são alimentados todos os dias tanto por palavras e ações externas que “ferem e matam a alma” quando por palavras que não são escutadas. Somos “animais” sociáveis e quando essa sociabilidade perde o sentido nos tornamos monstros de nós mesmos e dos outros.
Que a dor de "SAUDADE" seja dissipada com o tempo e que seu povo tenha paz e alegria para ter saudades das coisas boas, das histórias interessantes e não de atrocidades como essa.