QUANDO FUI DESAFIADO JAMAIS CORRI DE VISAGEM
AUTOR: JOEL MARINHO
A vida é um desafio
Mesmo antes de gerado
Dentro do esperma afogado
Nadamos loucos no “rio”
E no canal vaginal
Um bombardeio infernal
Para nos exterminar
E nessa grande corrida
Entre a morte e a vida
Eu consegui escapar.
Entre duzentos milhões
Cai aqui, cai acolá
Me encontrei com o Ph
Já levei uns arranhões
Até ao óvulo chegar
Tive que me apertar
Pela trompa de falópio
Naquele duto apertado
Eu quase fui destroçado
Foi muito feio o negócio.
Milhões ficaram pra trás
Naquela grande corrida
Foi a primeira da vida
Eu me senti tão capaz
O óvulo ali parado
E eu todo emocionado
Com o primeiro “casamento”
Mas tinha outro obstáculo
Bater até virar caco
Um casco duro nojento.
Até que enfim penetrei
Dois “corpos” viraram um só
Aquela união sem nó
Um grande êxito logrei
Células se diferenciando
E eu feliz me formando
No útero abençoado
Minha mãe com alegria
Com carinho me dizia
Meu querido filho amado.
Nove meses na barriga
Daquela grande mulher
Dizia ela com fé
O seu amor me irriga
E com todo sofrimento
Não reclamava um momento
Nem na hora de eu nascer
Me recebeu com um sorriso
Me senti no paraíso
Com aquele divino ser.
E durante muito tempo
Eu recebia cuidado
Minha mãe sempre ao meu lado
Era meu contentamento
Porém era um desafio
A vida anda por um fio
Desde a ejaculação
Se papai numa bobeira
Fosse só na “brincadeira”
Eu morria em sua mão.
No entanto, eu resisti
Como um grande vencedor
Na vida sou sofredor
E muitas vezes cai
No entanto, sou guerreiro
Mesmo não tendo dinheiro
Lutei por sobrevivência
Até hoje estou lutando
Todo dia batalhando
Pela minha independência.
Na vida sou bom soldado
E jamais fugi da luta
Se não dá na força bruta
Vou “comendo” pelos lados
De bicho feio eu não corro
E se precisar de socorro
Vou pedir na humildade
Se necessitar chorar
Eu deixo as lágrimas rolar
Mostro a minha humanidade.
Me considero um herói
Ao menos à minha vida
Jamais temi a descida
Nem a ferrugem me rói
Quando apanhei do sistema
A ele fim um poema
E não me fiz por rogado
Me bateu na cara a porta,
Mas não aceito derrota
E me mantive acordado.
Um dia o tal sistema
Resolveu tirar um cochilo
Eu me levantei tranquilo
E furei o seu esquema
Peguei a chave ligeiro
E fugi sem paradeiro
Com a chave em minha mão
Sem querer me deram a senha
Antes que ele me detenha
Me libertei da prisão.
E só por eu ter fugido
Daquela ilha Alcatraz
Ele não me deixa em paz
Tem-me muito perseguido
E mesmo eu tendo medo
Não viverei em degredo
E o enfrento todo dia
Não vou viver assombrado
Por um sistema malvado
Vou viver com alegria.
Todos os dias vou nadar
Em mares bravos e rios
A vida é um desafio
Que preferi encarar
Choro a noite e de manhã
Com a pele rosada e sã
Me levanto pra batalha
Pode chover canivete
Este sistema da peste
Não me porá a mortalha.
Quando sou desafiado
Eu encaro o inimigo
Viver é sempre um perigo
Temos que ser arrojados
Viver é aqui e agora
Não existe outra hora
O passado já passou
A incógnita do futuro
Está lá atrás do muro
Ainda não se confirmou.
Nasci e cresci roceiro
Vendi “chopp)* na feirinha
Fui matador de galinha
Inventei de ser pedreiro
“Desgotei” fossa com balde
Debaixo de chuva a tarde
Fiz até jogo do bicho
Pra poder comprar o pão
Capinei até com as mãos
Fui carregador de lixo.
Agora sou professor
Até que dia não sei
Se for pra mudar farei
Mesmo que me cause dor
Sou correnteza de rio
Adoro um desafio,
Pois isso é o que me renova
Estou sempre me testando
Isso nem sei até quando,
Pois gosto de coisas novas.
Deixo aqui o meu abraço
A quem leu esse cordel
A vida não é cruel
Mas ela nos põe o laço
Só aguenta quem é forte
A dança de vida e morte
Nos deixa sempre ligados
Luto com muita coragem
Jamais corri de visagem
Quando fui desafiado.