QUEM “CUIDA” DO RABO ALHEIO DEIXA O SEU RABO NO TRILHO
POR JOEL MARINHO No início de toda a vida Todo animal tinha rabo A cotia tinha um longo De tão lindo era garbo Até que chegou o homem Levando progresso e fome Dando ao silêncio cabo. No meio da mata virgem Surgia aos poucos um trilho Depois a locomotiva Trazendo novo estribilho Era um barulho infernal A própria face do mal Tirando da mata o brilho. No começo para os bichos Tornou-se aquilo um terror Porém ao longo do tempo O macaco acostumou Com a comadre cotia Os dois sentaram um dia No trilho sem mais temor. Travaram longa conversa Falando dos tempos antigos De quando tudo era silêncio E todos eram amigos Mas com tantas novidades Veio a individualidade Pondo todos em perigo. E no meio daquele papo O trem foi se aproximando Os dois com rabo no trilho E o macaco nem ligando A cotia gritou, cuidado! Compadre olhe seu rabo Que o trem está chegando. Disse o macaco, relaxe! Eu sei o que estou fazendo A cotia desesperada Disse compadre eu entendo, Mas vejo do trem o brilho O seu rabo está no trilho Meu coração está tremendo. Será que o senhor não vê? Não tem noção do perigo? Disse o macaco, comadre Não se esquente comigo Hoje eu estou azeitado Se eu perder o meu rabo Ainda serei seu amigo. E naquele desespero Pensa a cotia, coitado Via o rabo do macaco Ser pelo tronco cortado O trem igual um furacão Ela fez uma oração Com os dois olhos fechados. E quando o trem foi chegando O macaco muito esperto Pulou pregado num galho Ligeiro e de olho aberto Enquanto a pobre cotia Sentiu que seu rabo ardia Sem o macaco por perto. E naquela agonia No meio da aflição Abriu os olhos e viu Um rabo caído ao chão Ela gritou, ó compadre Quando pulou já foi tarde Não valeu minha oração. O macaco disse, comadre O que foi que aconteceu Ela com o rabo nas mãos Disse, olha o rabo seu E o macaco sorridente Disse o meu nem está quente Esse rabo é seu e não meu. Foi aí que a cotia Soltou um grito de dor Com o seu rabo nas mãos Era um circo de horror Chorou três noites e três dias A coitada da cotia De depressão desabou. Até hoje é acanhada Nunca mais teve alegria Vive escondida na mata Antes nas árvores subia Agora anda pelo chão Vive correndo do cão Que lhe caça todos os dias. Porém esse acontecido Deixa um legado com brilho Quem olha o rabo alheio Deixa o seu rabo no trilho Não dê centelha ao diabo Ame e cuide do seu rabo E deixe o dos outros, filho! Hoje eu vejo muita gente Cuidando do rabo alheio Além de indelicado É algo terrível e feio Incomodados na verdade Tem de fato é vontade De sentir o trem sem freio. Joel Marinho
Enviado por Joel Marinho em 05/07/2021
Alterado em 20/07/2021 |