A MORTE TEM PRESSA, A VIDA NÃO!
POR JOEL MARINHO
Passou como um furacão ao meu lado, um tanto preocupado e os olhos perdidos no futuro, ainda tentei alcança-lo, mas era tarde, estava muito apressado.
- Para onde vais com toda essa pressa, amigo?
Ele com pouca conversa apenas retrucou:
- Estou sem tempo, desculpa, estou atrasado!
A escada rolante ditava seus passos, sem mais tempo a perder pisou firme os degraus e adiantou a sua pressa.
E eu que jurava jamais ser tratado de forma tão fria e áspera por aquele amigo fiquei me lembrando da nossa infância quando conversávamos sobre a vida e dos nossos sonhos de adultos.
Ele só queria ter dinheiro para passear, brincar, ir a lua, enfim a nossa imaginação rodava solta ao pensar esse provável futuro.
A vida o abraçou, ele tornou-se empresário dono de uma companhia aérea e um patrimônio altamente abastado, carros importados com direito a frigobar, jatinho particular e cerca de pelo menos cem seguranças. Já a minha vida, eu diria, se fosse medir com a dele era uma miséria, sem carro do ano, uma casinha humilde sem piscina e um cachorro vira latas era meu maior segurança, mas pasmem, a felicidade ditava meu ritmo e minha alegria.
Com meu emprego humilde eu juntava dinheiro para viajar ao menos uma vez por ano, me divertia e já havia colecionado pelo menos vinte países diferentes na bagagem, teatros, bares, monumentos, praças, estádios de futebol, cachoeiras, cânions, enfim, conheci o mundo de verdade e em sua essência.
Ele havia viajado para muito mais países que eu, porém nunca parou uma semana sequer para desfrutar de suas conquistas, era sempre no jatinho ou escritório assinando documentos com a mesma pressa de cada dia.
Ao passar por mim naquela tarde no shopping cercado por seguranças e com a mesma pressa apenas balbuciou essas palavras e se foi, provavelmente para assinar mais uma centena daqueles documentos chatos que consumia cerca de noventa por cento de tempo de sua vida.
Sentei-me no barzinho do shopping e pedi um chopp bem gelado acompanhado de um delicioso tira gosto de queijo e carne. Som ambiente e um televisor ligado, segui a vida normalmente como sempre fazia nos meus dias de folga.
Cerca de duas horas depois eu ainda estava ali em meu gozo vespertino quando de repente olhei rápido para a televisão que anunciava a queda de um jatinho e a morte de um grande empresário.
De início não dei tanta importância, mas continue a acompanhar as notícias, foi quando vi surgir o seu nome como principal figura conhecida que havia tido a vida ceifada naquele terrível acidente.
Fiquei estático. Tanto dinheiro, tanta pressa, naquele dia eu só queria uma tarde ao lado do meu velho e bom amigo e mesmo que não fosse debaixo das antigas árvores falando da vida seria no shopping na mesa de um bar sorrindo da vida.
Não havia mais vida, ao menos para o meu amigo, não havia mais sonho, tudo acabou de uma forma tão doída, tão depressa em meio a tanta pressa.
Ele só queria ter muito dinheiro para viver em plena felicidade. Que ironia! Conviveu em meio a tanto dinheiro, trouxe felicidade para tantas pessoas e jamais soube de fato o que foi ter felicidade, ao menos era isso que ele demonstrava com aquele olhar de tristeza nas vezes que por acaso nos encontrávamos.
Fiquei por um tempo ali sentado e tomei o ultimo gole de chopp contido naquele copo. Levantei, paguei e fui para casa pensar um pouco e criar estratégias para me divertir mais, viver mais, usufruir mais das coisas que eu tinha. A vida é muito curta e a morte pede pressa, então por que desperdiçar algum segundo “vivendo” o futuro se o único momento que vivemos é apenas o presente?
Com certeza absoluta jamais irei desfrutar da companhia do meu amigo sentado no bar de um shopping conversando sobre qualquer coisa e colorindo o mundo com nossos sorrisos como fazíamos debaixo da árvore em nossos dias de criança pensando o futuro.
A morte tem pressa, a vida não!