SEU RAIMUNDO AGENOR, O DISCO VOADOR OU O COICE DA
VACA LUSTROSA NO ESTÔMAGO.
POR JOEL MARINHO
Naquele local distante residia Seu Raimundo Antenor e sua esposa
dona Romana Maria, em uma mini, mas mini fazenda mesmo nos
confins do Amazonas, tão longe de tudo que foi apelido de “Onde
Judas Perdeu as Botas” ou também “Onde o Vento Faz a Curva”.
Mas eles estavam acostumados com sua terrinha, foi ali que ocorreu
aquele encontro o qual ele conta até hoje para quem por acaso
resolve visita-lo e tem o prazer de ouvi-lo, mas não o contrarie senão
leva chumbo nas costas.
Sempre que chegava próximo à noite as araras faziam algazarra em
uma enorme árvore de angelim vermelho que ficava em frente a
casinha simples com paredes de barro e cobertura de folha de ubim.
Juntando-se as araras os macacos de cheiro também ficavam
pulando de um lado para o outro nos galhos até a noite chegar e tudo
ia se acalmando, todos os pássaros e macacos iam se agasalhando
em suas “camas” e a calmaria se tornava ensurdecedora. Aquela
rotina se tornara tudo para aquele casal de costumes simples que
moravam ali sozinhos, por alguma sina de Deus, como costumavam
dizer não tiveram filhos, lógico que nunca foram a um médico para
saber qual o problema, de início eles se frustraram bastante,
entretanto, com o passar do tempo se acostumaram com a ideia do
“castigo” divino.
Antes que a noite chegasse dona Romana ia até o riacho que
passava a cerca de trinta metros de sua casa, lavava os poucos
“cacarecos” que tinham, pegava água na cacimba e enchia um pote
com água a qual servia de consumo ao casal, por fim tomava banho
e fazia o jantar no fogão a carvão ou lenha antes que a noite caísse
e nada mais se podia ver, a não ser através da pouca luz emitida por
uma lamparina a querosene e uma lanterna que era a noite os “olhos”
de seu Raimundo Antenor.
Enquanto dona Romana cuidava de sua rotina naquela divisão de
trabalho simples seu Antenor cuidava de separar as duas vacas
leiteiras das outras duas sem filhotes e do boi Tetéu, na manhã
seguinte retirava o leite antes de soltá-las no pasto. Leite esse que
fazia parte de suas dietas, além da farinha produzida por ele, alguma caça que de vez em quando conseguia e de peixes pescado
nos rios e riachos próximos.
Esporadicamente os dois recebiam algumas visitas de parentes
distantes ou de vizinhos, vizinhos esses onde o mais próximo eram
quatro horas de viagem andando dentro da mata montados em
animais, por aí já percebemos a pouca presença de outras pessoas
em sua terra.
Era início de noite, cerca de 18:30, fim de tarde rotineira como todas
as tardes, dona Romana já havia chegado do riacho e estava fazendo
a janta, enquanto seu Raimundo conversava com as duas vacas
tentando convencê-las a entrar no curral quando de repente aquele
clarão cobriu todo o local e ele sentiu ficar cego por alguns segundos.
Ao começar enxergar ainda meio embaçado seu Raimundo pegou a
velha espingarda, companheira de todas as horas a qual muitas
vezes havia lhe salvado de ataques de onças pintadas, engatilhou e
apontou para aquela joça esquisita em formato arredondado e
brilhante.
Com a voz trêmula gritou:
- Quem vem daí?
- Se vier em paz tudo bem, mas se for de guerra vai levar chumbo!
A porta se abriu e aquele ser amarelo descia daquele troço esquisito,
era uma figura humana, porém de tamanho e rosto desproporcional,
media mais ou menos uns dois metros e meios de altura, olhos
vermelhos e voz esquisita, entretanto, era possível ser
compreendida.
- Presta atenção humano! Venho em missão de paz e escolhi você
para espalhar a mensagem ao mundo, diga para todos os líderes
mundiais que cesse imediatamente suas ganâncias e parem de estar
espionando o espaço, já não aguentamos mais ver nossas casas
sendo destruídas por um bando de malucos que não se contentam
em destruir apenas as suas casas e querem destruir as nossas
também. Estamos vindo aqui em missão de paz e percebemos o
quanto vive em harmonia com a natureza, por isso o escolhemos
para essa missão, espalhe a nossa mensagem e caso ela não seja
cumprida em dez anos estaremos de volta e infelizmente não sobrará
um único humano para continuar essa história.
- Estamos entendidos, seu Raimundo Antenor?
- Sim, estamos entendidos, mas de onde vocês vieram?
Sem dizer mais nenhuma palavra aquele ser retornou a nave, a porta
se fechou e tudo voltou a escurecer.
- Raimundo, Raimundo, levanta daí do chão, homem! Gritava dona
Romana.
- O que aconteceu?
- A nave, a nave, os homens amarelos enormes!
- Raimundo, o que está acontecendo contigo, meu velho?
Seu Raimundo levantou do chão e limpou as costas que estavam
cheias de terra. Suas pernas doíam e havia a marca de um coice da
vaca Lustrosa em seu estômago. Meio atordoado fechou a porta do
curral e foi para o riacho tomar banho e pensar naquela cena terrível.
Raimundo e Romana ainda moram naquele mesmo lugar, suas
rotinas continuam as mesmas e toda vez que alguém começa a
conversar com ele vai ter que ouvir essa história a qual o mesmo tem
como uma mensagem extraterrestre que precisa ser cumprida sob
pena de estar em risco a humanidade.
Ah, se você não quiser uma briga de foice com seu Raimundo
Antenor não o contrarie dizendo que isso é mentira, o ultimo que fez
isso saiu da casa dele correndo e teve que ir a um hospital mais
próximo retirar trinta caroços de chumbo espalhados pelas costas
cuspidos da sua velha e inseparável cartucheira, apelidada por ele
de cospe fogo, seu segundo amor depois de dona Romana Maria, é
claro, pois ele é valente com outras pessoas não com ela, aliás, ela
é a única que tem a coragem de dizer que o seu velhinho teve um
delírio depois de levar um coice no estômago da vaca Lustrosa que
também não estava de bom humor naquele dia depois que o seu
“marido” o boi Tetéu andou “tirando” com a cara dela olhando com
ar de apaixonado para a sua amiga, a vaca Manchada.