O VALENTÃO DA MINHA INFÂNCIA OU A GRANDE LIÇÃO
JOEL MARINHO
Este cordel mal rimado
E sem muita inspiração
Escrevo por terapia
Não sei se é bom ou não
Mas se você quiser ler
Eu tenho muito a dizer
Nessa enorme lição.
Nunca seja um arrogante
Jamais se julgue o melhor
No mundo há sempre alguém
Que desate o nosso nó
Por mais esperto que seja
Lembre-se que numa peleja
Você pode levar a pior.
Este causo eu conheço
Desde que eu era criança
Não sei quem contou primeiro
Porém tenho como herança
A estória de um valente
Que viu o “diabo” em sua frente
Depois de fazer lambança.
E esse arruaceiro
Era o Chicão Valentão
Ele era conhecido
Pela sua região
Por cabra desaforado
Que não mandava recado
E matava de facão.
Chicão era um homem forte
Quase dois metros de altura
Se olhasse para alguém
Abalava as estruturas
E assim dia após dia
A sua fama crescia
De tão cruel criatura.
Um dia estava o Chicão
Tomando umas cachaças
Ele jogava sinuca
Com todos fazia graça
Todos pra ele perdia,
Pois todos ali temia
O causador de arruaça.
Fez a rodada três vezes
Foi ganhando todo mundo
Um a um foi se afastando
A cada cinco segundos
Ele olhou pra todo lado
Tinha um baixinho sentado
Num pensamento profundo.
Disse ele, ô amarelo
Já que tu não foi embora
Pega um taco e vem jogar,
Porém homem aqui não chora
Se ganhar pago a cerveja
Mas se perder a peleja
Leva surra sem demora.
Porque cabra assim baixinho
Eu bato de cinturão
Não gasto nem minha faca
E muito menos facão
Um amarelo “empombado”
Eu bato nele sentado
Só utilizo uma mão.
O baixinho nada disse
E todos vieram ver
Aquela grande batalha
Se ia ter ou não ter
E Chicão pegou o taco
E disse acabou o papo
Agora é eu e você.
Deu a primeira tacada
O baixinho analisou
E o povo ali olhando
Diziam, já se lascou
Sem dar uma de gabola
Meteu logo quatro bolas
Viu que o Chicão se zangou.
Chicão disse é pura sorte
Essa tua tacada torta
Sabe com quem está jogando?
Ele disse, pouco importa!
Quando jogo eu não converso
E a mim cabra perverso
Minha faca entra torta.
Já na segunda tacada
Ele venceu a partida
E Chicão o perguntou
Você tem amor a vida?
Ele respondeu bem forte
Não tenho medo da morte
Nem choro em despedida.
E assim se prosseguiu
O jogo e a discussão
E já na quinta partida
Nenhuma ganhou Chicão
Foi aí que começou
Quando Chico o chamou
De pilantra e ladrão.
Me chame do que quiser
Lhe falou sério o baixinho
Tamborete de parteira
De corno e de anãozinho
Mas me chamar de ladrão
Isso eu não tolero não
Eu vou sair de mansinho.
Não vim para fazer briga
Vim para me divertir
Por isso estou dando o fora
E nem pense em me seguir
Mas antes de fechar a boca
Gritou Chicão de voz rouca
Nem pense que vai sair.
E partiu muito ligeiro
Para pegar o baixinho
Que num desvio se livrou
Deixando livre o caminho
Correu e pegou um giz
E no grandão fez um xix
Bem no meio do focinho.
E cada tapa que vinha
Com força do grandalhão
O baixinho se virava
E com o seu giz na mão
Deixava o corpo marcado
De Chicão o desalmado
Mais irado que o cão.
E a luta foi se dando
Com o povo aglomerado
Porém ninguém entendia
Porque Chicão era riscado
Cada tapa que ele dava
O baixinho só pulava
Deixando o grandão cansando.
Em meia hora de luta
O baixinho era o rei
Então puxou um punhal
Ou uma faca, não sei
E disse cabra safado
Vou te deixar esfolado
Cortar só onde eu marquei.
Chicão naquele momento
Não quis ouvir ladainha
E saiu desaprumado
Igual um galo de rinha
Nada podia fazer
Só lhe restava correr
Com o resto de força que tinha.
Dizem que depois daquilo
Chicão se escafedeu
E o tal baixinho também
Logo desapareceu
Porém ficou a lição
Jamais seja fanfarrão
Se sentindo o próprio deus.
Nessa vida a gente sabe
Porém tem um mais sabido
Pra não cair no abismo
Preste atenção, dê ouvido!
Para quem é insolente
Só veneno de serpente
E paulada no ouvido.
Isso serve a todos nós
Na vida e na profissão
Respeite o seu semelhante
Jamais seja esse Chicão
Mas isso é só um alerta
O inferno tem porta aberta
Com um abraço do cão.