ENCOSTADO ÀQUELE TRONCO QUEIMADO O VELHO ÍNDIO CHOROU
JOEL MARINHO
Em campo aberto perdi-me, no meu desespero caminhei aleatoriamente tentando lembrar-me das aula de Geografia na tentativa de tentar me localizar com a posição do sol, mas tudo foi em vão e já começava entrar em desespero quando após andar quase dez horas não encontrava nenhum sinal de vida naquele mundarél de chão sem nenhuma árvore de expressão, apenas pasto a sumir de vista.
Quando o desespero bateu em mim avistei de longe um sinal leve de fumaça. Andei apressado e a medida que avançava via despontar diante de mim um grupo de pessoas, eram indígenas. Senti medo, pois pela primeira vez eu tive contato assim direto de uma parte de mim, visto ter eu descendência desse povo mais antigo habitante do Brasil. Logo depois do medo senti vergonha de mim mesmo por nunca ter buscado aprender mais sobre essa minha descendência.
Cercaram-me e me fizeram muitas perguntas, bem, ao menos penso que eram perguntas visto não entender nada daquela linguagem deduzi seram perguntas.
De repente um senhor aparentando ter cerca de 80 a 90 anos se aproximou de mim com um pedaço de pau na mão, meio que apoiava seu peso sobre aquela vara como uma espécie de muletas.
- Quem é você, de onde vem?
Enfim alguém que falava algo entendível mesmo com um português meio arrastado.
- Sou João Carlos e perdi-me nessa fazenda enorme, estava em uma missão para verificar o nível de poluição nos rios e seus afluentes, senhor.
- Sente fome, perguntou ele?
- Sim, respondi, também muita sede.
Ele olhou para o rapazinho próximo, o mesmo saiu sem dizer nada e voltou com uma cuia cheia de água fazendo-me saciar aquela sede terrível. Depois trouxe umas comidas diferentes, um assado de caça. Como estava com muita fome não me dei o luxo de perguntar que animal era aquele. Comi como se nunca tivesse comido nada até saciar a fome horrenda.
A noite chegou e por volta das 19 horas o velho índio me chamou para fora da oca. Nos afastamos um pouco até chegarmos ao tronco de um angelin centenário queimado que fora levado por um madereiro cerca de cinco anos atrás.
O velho índio olhou ao horizonte para a lua cheia e bela que despontava maravilhosamente.
Depois de alguns segundos de contemplação ele quebrou o silêncio e começou a contar a História de seu povo.
- Há muito tempo atrás quando eu ainda era criança meu avô nos contava a história do nosso povo. Ele dizia que quando ele era criança todo esse território agora pasto era de mata e rios caudalosos, nada aqui faltava, tudo era abundante, mas ele já alertava dos perigos rondando nossas terras.
Ele infelizmente estava certo, as invasões constantes levaram a muitos de nós o combate banhando de sangue essa terra, porém nada adiantou, hoje estamos presos a esse pequeno espaço o qual o governo diz ter demarcado e chamado terra de índio.
Quanto aos rios a maioria secaram, os peixes automaticamente sumiram e a caça ficou muito rara, o mundo moderno exterminou não apenas a fauna e a flora, mas sobretudo a nossa cultura.
Não vejo mais saída a não ser a nossa extinção.
Parou de conversar e novamente fitou a lua. Dos seus olhos descia um fio de lágrima que traduzia não apenas uma tristeza normal e passageira, mas era a própria tradução profunda da desesperança.