EU
Tive medo de ser eu
Me prendi no olhar alheio
E me perdi no meio do mar.
Como era difícil caminhar
Quando o próximo passo
Era de mim negado.
Não vai conseguir!
Gritavam eles em meu ouvido
Não é para ti, você não merece
Vê se cresce e entende o teu lugar!
Mas que lugar, qual era o meu?
Eu não tinha lugar, mas resolvi lutar.
A dor de dormir cansado e sem comer
A fome maldita me matava
E eu já sem força chorava
Sem esperança ou perspectiva.
Pensava eu que a vida
Eu não a merecia. Por que viver?
E na madrugada choro
O som da fome em coro
Fazia música em minha barriga vazia.
Comer no outro dia? Nem esperança!
Oportunidades perdidas? Quais?
Só via a dor, o choro dos meus irmãos
A tristeza no olhar da minha mãe
As lágrimas nos olhos do meu pai
Que fingia sorrir para chorar escondido
No canto do barroco, abatido.
O desemprego, o desespero
Por vezes clamei pela morte
Quanta sorte eu teria se ela me abraçasse!
Eu venci a morte até agora
Temê-la? Não a temo.
Buscá-la? Não a busco.
Amo a vida e por tudo
Me acho vencedor, sim, sou!
E hoje não tenho mais medo de ser quem sou
Sou eu, eu mesmo, com dores, cores e alegrias.
Eu venci na vida, mas sobretudo venci a maldade,
A falsidade, as baboseiras que me fizeram crer.
Sou um pouco de tudo, sou um pouco de vida
E talvez sou um pouco de morte também,
Quanto a sorte, ah, nem venha
Já me fizeram acreditar muito nela
E eu sofri tanto esperando-a na janela
Até perceber o que me fizeram acreditar
E remar sozinho contra as ondas bravas do mar.
Sou duro as vezes, noutras tão emocional
Se me fizerem acreditar que o bem é mal
E vice versa, não quero conversa
Quero ser eu e se alguém duvidar
Nem ligo, deixo tudo isso pra lá
E sem alguém quiser ser eu...bem
Ou ao menos a representação de mim atual
Oi, foi mal, para ser eu precisa se vestir
Vestir de mim, das minhas fortalezas
Sobretudo das minhas fraquezas
Porque eu sou isso, uma mistura de tudo
De dor, alegria, tristeza e felicidade
Se quiser ser eu se calce de humildade,
Entretanto, não esqueça jamais de lutar.
JOEL MARINHO