Joel Marinho
Entre letras e versos
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A "SÍNDROME" DO SINHÔZINHO E DA SINHAZINHA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS (UFAM)

JOEL MARINHO 

 

Não é de hoje venho fazendo algumas observações digamos, de certo ponto "natural" acontecendo na Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

Sempre que chego um pouco mais cedo do trabalho para assistir aula a noite vou direto a uma venda de alimentos dentro das dependências da faculdade de agronomia, onde também funciona provisoriamente as salas das turmas de Psicologia e peço um café com leite e uma tapioquinha, com queijo, prática nossa aqui do Norte na merenda da tarde. 

Café servido em copo plástico, já uma prática ultrapassada visto o enorme acúmulo de lixo com esse material e a tapioquinha no prato de louça ou vidro (menos mal). Sento, tomo meu café, às vezes leio algum texto, noutras vejo as redes sociais enquanto degusto e é nesse momento que percebo algo, prática do período colonial brasileiro.  

Algumas pessoas terminam de comer, levantam e deixam prato, copos e lenços descartáveis usados em cima da mesa, saem sem nenhuma cerimônia de ter deixado o seu lixo para trás. Detalhe, a lixeira fica a poucos metros de onde está comendo e uma mesa é deixada especificamente para pôr o prato sujo dentro do que foi deixado anteriormente. Mas essas pessoas não estão preparadas para essa conversa.

Tudo bem, tem umas duas pessoas responsáveis depois por sair "catando" a louça suja e levando para lavar.

Mas o que custa a pessoa fazer esse gesto simples de jogar seu lixo na lixeira e levar o prato até a mesa? Sinceramente, me bate um total desespero, visto os discursos sobre empatia, amor ao próximo e humanidade existente dentro das salas de aula e eu falo isso com propriedade de causa, visto já estar terminando a minha segunda graduação cursada com orgulho nas duas maiores universidades públicas do norte, UFPa e UFAM.

Por que não ajudar as pessoas que estão trabalhando ali muitas vezes o dia todo para ganhar o seu suado salário no final do mês? Cairia a mão da pessoa em fazer esse gesto simples?

Seria a nossa prática o inverso dos nossos discursos?

É nesse momento que percebo o quanto ainda falta para avançarmos nesse sentido e abandonarmos as práticas do período colonial onde o sinhôzinho e a sinházinha eram servidos em tudo. 

O tempo passou, mas infelizmente os costumes ficaram e eles estão presentes no dia a dia do século 21 praticando as mesmas coisas do passado distante, porém impregnado em nossas "memórias afetivas", talvez seja até de forma involuntária, no entanto, apesar do avanço percebo que ainda há muita gente com zero de preocupação no sentido de quebrar esse paradigma, como se a ou o empregada/o estivesse para servi-lo em tudo ao estilo escravizado e dono ocorrido até finalzinho do século19. 

Não há mais o peso do chicote da escravidão, todavia há o peso terrível do poder econômico capaz de resgatar elementos escravistas que a muito era para termos enterrados na lixeira do esquecimento. 

Não haverá mudanças se discursamos bonito sobre igualdade, humanidade e empatia para uma plateia lotada de doutores se não não fazermos a nossa parte para justificar os belos discursos.

 

Joel Marinho
Enviado por Joel Marinho em 27/07/2022
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