Joel Marinho
Entre letras e versos
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A DEPRESSÃO DA MINHA CARTEIRA

Já falei outras vezes sobre meu estranhamento com o novo, porém ao mesmo tempo procuro logo adaptar-me, pois não faz parte de mim tornar-me um velho ranzinza e que não aceita as mudanças, mas juro a vocês, estou com tanta pena da minha quase “finada” carteira ao vê-la ultimamente numa depressão só, acabrunhada e enrugada já faz tempo que uma onça não o arranha, muito menos uma garoupa, nem falarei do lobo-guará, essa eu mesmo vi apenas uma vez e nem era meu.

Coitada da minha carteira, murcha e encolhida em meu bolso o máximo que vê é um mico leão. Tudo bem que era rápido que via o meu salário, mas ao menos todos os meses por alguns instantes ela ficava “barriguda”, tufada e orgulhosa se sentindo “mó” rica ao ser depositado dentro dela o soldo mensal de professor da rede estadual, certo que não é muita coisa, mas tinha todo um ritual de felicidade.

Mas agora, coitada, depois da nova invenção perdeu terreno para o tal de PIX que por curiosidade fui investigar para saber o significado da sigla e para o meu espanto não há um conceito específico, aliás, nem é uma sigla. Agora danou-se!

Lembrei-me dos meus avós que há mais de 40 anos atrás falavam que um dia o dinheiro ia ser substituído e todos teriam o “sinal da besta”. Bem, besta mesmo sou eu que nem sinal e nem dinheiro tenho, mas de certa forma eles estavam certos, dinheiro é coisa do passado e em breve entrará em extinção, talvez não tão rápido quanto as notas de duzentos reais, mas irá.

Pois bem, agora resolvo tudo com um toque de tela passando um PIX, até para comprar picolé na escola onde trabalho é por essa ferramenta, inclusive os pedintes nos sinais e vendedores de bombons dentro dos coletivos estão “ligados na parada” e quando pedem ou vendem já mostram o QR CODE, outra sigla ou conceito que também não sei o significado, só sei que gera um código capaz de levar direto e mais rápido para o pagamento instantâneo do PIX.

Se meus avós ressuscitassem agora com certeza iriam dizer que isso só pode ser coisa do diabo, mas eu sei que não, isso é coisa do homem mesmo que se mostra a cada dia mais rápido em suas invenções e aplicações delas.

Mas voltando a minha carteira. A coitada anda tão cabisbaixa, numa tristeza só. Já não tem mais a alegria de sempre, tem no máximo uma nota de cinco reais desbotada e uns documentos meus já meio ultrapassados. Logo em breve ela perde a total funcionalidade com a carteira de motorista não física e a nova identidade que poderá ser checada em QR CODE através da tela do celular.

Já estou até imaginando quando a coitada da minha carteira se tornar peça de museu irá precisar fazer terapia para vencer a depressão. Pior será eu ter que pagar o terapeuta dela através do PIX. Pelo que estou vendo a carteira nunca mais terá paz e irá ser jogada nesse mar de inutilidade e morte por obsoletismo.

Joel Marinho
Enviado por Joel Marinho em 25/08/2022
Alterado em 25/08/2022
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