LEMBRANÇAS DE UMA COPA E UM “CARRASCO” CHAMADO PAOLLO ROSSI
POR JOEL MARINHO
É o grito dos excluídos
É soma da emoção
É união de um povo
Todos com a mesma paixão
Verde, amarelo, branco, azul
Colorindo de norte a sul
Pertencimento de nação.
Talvez a copa do mundo
Seja o único momento
Que o brasileiro se veja
Em um só pertencimento
Nacionalista, patriota
É quando esse amor brota
Depois cai no esquecimento.
Mas vamos deixar de delongas
E vender a nossa História
Da copa de oitenta e dois
Viva em nossa memória
Aquele Brasil e Itália
Parecia uma batalha
E meu peito ainda chora.
Televisão preto e branco
No interior do Pará
Ligado na bateria
Para ela funcionar
No intervalo fechava
E os mais velhos analisavam
Antes de recomeçar.
Pois se deixasse ligada
A bateria acabava
E para recarregar
Vinte quilômetros se andavam
Em uma estrada de chão
Por dentro de um matão
Só no outro dia voltava.
A antena em uma vara
Com quinze metros de altura
A imagem chuviscava
Era aquela amargura
Muitas vezes se fundia
Criando em nós agonia
Quando a tela ficava escura.
E era a única tv
Que havia na região
Na casa do seu Vicente
Comerciante, “barão”
Televisão era luxo
Só pra quem tinha cartucho
E no bolso munição.
Eu só tinha sete anos,
Porém meu pai me levava
Algo a mim incomum
Porque ele não gostava
De andar com suas crias,
Mas como a copa é magia
Essa exceção se dava.
Naquele cinco de julho
Nos tomava o nervosismo
E logo aos cinco minutos
Começou o “terrorismo”
O “carrasco” Paollo Rossi
Num cruzamento precoce
Mostrou o “totalitarismo.”
Aos doze minutos o Sócrates
Que não é o pensador,
Mas mostrou aos italianos
Como que se sente dor
E o grito da garganta
Nos trouxe muita esperança
E o jogo continuou.
De novo o nosso “carrasco”
O mesmo Paollo Rossi
Estava “endiabrado”
Fez daquela bola posse
Aos vinte e cinco minutos
Reinando absoluto
Fez-nos sofrermos precoce.
Segundo tempo voltou
Televisão religada
Os nervos à flor da pele
Esperança renovada
E aos sessenta e oito Falcão
Driblou e deu um chutão
Para alma ficar lavada.
Daí pra frente foi só
Um misto de sentimento
A cada bola da Itália
Aumentava o sofrimento
Que épica aquela partida
Foi uma das mais doídas
Dói mesmo com tanto tempo.
E parece que estava escrito
Pelo “deus” do futebol
Que seria Paollo Rossi
A volta do nosso anzol
Na bola de escanteio
Sobrou a ele no meio
E a nós um “cibazol”.
O Zico partiu pra cima
O zagueiro o agarrou
Talvez o pênalti mais nítido
Que o juiz não marcou
A camisa virou um “facho”
Rasgou de cima a baixo
E o árbitro nem olhou.
O jogo foi acabando
A esperança também
Os olhos já lagrimando
Eu não desejo a ninguém
Esperar mais quatro anos
Para um Platini “tirano”
“Matar” o Brasil também.
No fim do jogo a TV
Rápido foi desligada
A tristeza era nítida
As nossas feições mudadas
Homem que é homem não chora
Dizem os homens na hora
Com as vistas enevoadas.
É essa visão que eu tenho
Da copa de oitenta e dois
Depois disso fomos penta
Jogando “feijão com arroz”
Das que vi com emoção
Foi a melhor seleção
Mesmo com muitas depois.
Essas são minhas memórias
Da seleção brasileira
Foram talvez mais marcantes
Por serem as minhas primeiras
A magia da televisão,
O encontro com a seleção
Tornou-se mais rotineira.
Já deixei o meu recado
Vem mais copa, esperança
Penso na televisão
Como passou por mudanças
Hoje quase aposentada
Mas é nela que as jogadas
Ainda tem confiança.
Nesse momento difícil
De um Brasil dividido
Que venha a copa do mundo
Para unir os indivíduos
E nos traga emoção
Como uma grande nação
E um lindo colorido.