A ESTÓRIA DO BODE “CHEIROSO”
POR JOEL MARINHO
Numa fazenda distante
De toda e qualquer cidade
Havia um bode fuleiro
Cheio de perversidade
Não queria as cabras velhinhas
Para ele só as novinhas
Matava a sua vontade.
As novinhas fugiam dele
Como o diabo foge da cruz
Co aquela barba imunda
Elas diziam, Jesus!
Quando ele se aproximava
Elas em bébébé ficavam
Mas ariscas que avestruz.
O bode todo faceiro
Se achava o pegador
Roçava a barba nelas
Que diziam, “que horror!”
E o bode velho berrando
E as cabritinhas chorando
Com todo aquele terror.
Ele ainda se gabava
Aqui eu sou mais querido
As cabritas aborrecidas
Com o velho bode enxerido
Resolveram sem engano
Que iam criar um plano
Para ele ser banido.
Um dia a cabrita Bela
Resolveu pastar sozinha
Ele ficou na espreita
De uma forma mesquinha
Quando ela se espantou
Sobre ela ele pulou
Como um galo na rinha.
Ela deu enorme berro
Se ouviu em toda fazenda
Acertou um grande coice
E começou a contenda
As cabritas todas chegaram
No bode velho pisaram
Gritando, vê se aprenda.
O bode passou uns dias
Capengando em três patas só
Quem não conhecia ele
Ao ver até tinha dó
Porém quando conhecia
A vontade que subia
Dar uma surra de cipó.
O cabritinho crescia
Já estava encorpado
O que deixava o velho bode
Por demais enciumado
Pensava ele, dancei
Esse cabrito vai ser rei
E eu serei sacrificado.
O problema do velho bode
Não era a sua velhice
Era o seu comportamento
Sempre em grande gabolice
E de tanto enxerimento
Apanho até do jumento
Veja quanta jumentice.
Pois a mulher do jumento
Estava um dia pastando
Ele chegou de repente
E foi logo lhe encoxando
O jumento quando viu
Deu-lhe um coice tão frio
Que passou três dias rodando.
E quando se aprumou
Jurou bater no jumento
E na primeira investida
Sofreu de novo o tormento
Outro coice no “pé do ouvido”
Perdeu de novo o sentido
Mais três dias de sofrimento.
Não queria saber das cabras
Que tinham a sua idade
Só as cabritas novinhas
Era a sua vaidade
E assim foi se afundando
Cada dia se isolando
Na sua perversidade.
Um dia o velho bode
Caiu no sono profundo
As cabritas aproveitaram
Pra lascar com o moribundo
Comeram a roça do dono
Jogaram no bode com sono
A culpa de todo o mundo.
Quando o dono viu aquilo
Com tanta cólera ficou
Pegou o bode dormindo
Em meio aquele horror
Deu-lhe umas chicotadas
E ele sem entender nada
Meu Deus, onde eu estou?
Quando viu a quebradeira
O corpo todo tremeu
O dono com tanta ira
Mais chicotada lhe deu
Amarrou pernas com chifres
Já foi buscar uns maxixes
Pensou o bode é o fim meu.
Amarrado ele passou
O resto do dia e da noite
De manhã quando acordou
Foi debaixo de açoite
O velho bode berrava
E a cabritada escutava,
Porém ficaram na moite.
Depois de apanhar bastante
Para perder o fedor
Uma faca e um machado
Era a visão do horror
No chifre uma machadada
E a garganta sangrada
O bode velho expirou.
Serviu de alimentação
E de exemplo ao bodinho
Se quiser viver mais tempo
E morrer no seu cantinho
Trem que saber respeitar
Porque em todo lugar
Temos regras direitinho.
Não seja esse bode velho
Aprenda a se comportar
Cada idade uma fase
Não deixe o ego o levar
Pois a faca e o machado
Ainda estão guardados
Para mais bodes matar.
Assim é a vida do bode
E de todo enxerido
Os que pensam em se dar bem
Com os seus egos crescidos
Acabam numa panela
Ou numa imunda cela
Chorando e arrependido.
Termino aqui essa estória
Espero ser escutado
Para depois não ouvir
Meu Deus, não fui avisado!
Espero ajudar você
Cuidado com o prazer!
O meu recado foi dado.