COMO A DESGRAÇA TODA COMEÇOU
POR JOEL MARINHO
Estava o homem feliz com suas regalias. Pescava, caçava, colhia e todos juntos em um único banquete comiam. As festas eram de todos, não havia divisão, não havia casamento, não havia ladrão, todos eram iguais, mesmo que tivessem líderes políticos e líderes espirituais.
Mas eis que de repente alguém olhou para o azul do espaço e disse: é o céu e lá onde os olhos não veem está um tal deus. Logo esse esperto olhou para o infinito da terra e gritou: esse espaço é meu e todos que estão dispostos aqui também são meus e trabalharão a mim como súdito.
E foi aí que fu....!
Quem não se adaptou o chicote comeu e em nome do seu deus o não adaptado foi escravizado, colonizado, maltratado, usurpado do que era seu.
Colocaram a culpa em um tal Adão, mas eu cismo que foi outro ladrão que roubou as terras e criou outro deus. Só sei que de lá para cá é peia, quem não quiser se adaptar vai para a cadeia.
Mas para nos acalmar inventaram a liberdade, um termo usado para dizer que somos livres para ir e vir e fazer o que nos der na telha. Eu acreditando corri para um espaço de terra e gritei, aqui é meu, mas o que em seguida se sucedeu foi um monte de polícia sobre mim como abelha. Me acordei no hospital e muito mal, algemado em uma cama e a dona justiça sentada ao meu lado com um sorriso sarcástico, a sacana.
Liberdade é? Quão livre eu sou que nem meu nome me deixaram escolher. Até meu deus me deram de presente e quando eu digo que não quero ele, me chamam de indecente, ateu, impaciente.
Preciso me aquietar nessa prisão, fazer oração e esperar a graça e se por acaso acontecer uma desgraça lembrar que sou pecador e por conta disso o deus me castigou. Maldito ancestral aquele que criou a ilusão da riqueza. Mataram a floresta, criaram outras festas e sucumbiram o curupira com frieza. Criaram as cidades, arrumaram novos deuses, sofisticaram as maldades e como não tinham a quem culpar inventaram o tinhoso. Uma mão na luva para se limpar com o tal senhor, se errei foi o cão que atentou, não sou eu o culpado, sou fraco, sou pecador, portanto, senhor, ei de ser perdoado.
Vou ficando por aqui antes de ser novamente julgado, metralhado ou queimado tal qual Joana D’arc naquele circo do horror.