Joel Marinho
Entre letras e versos
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Textos

SOMOS O VENENO E O ANTÍDOTO (Por onde anda Tupã?)

Peço licença a Tupã

Para narrar essa saga

A destruição que chega

Como se fosse uma praga

Matando bichos e rios

Formando um grande vazio

Deixando aqui essa chaga.

 

No coração da Amazônia

Lamenta a onça pintada,

Pois teve seus ancestrais

Pelo garimpo dragada

Com a queda da floresta

Entre os bichos não há festas

Só fumaça das queimadas.

 

A rainha da Amazônia

Ver sua coroa caída

Seus filhos desesperados

Caem um a um sem vida,

Pois um caçador malvado

Mantém seu rifle apontado

Causando dor e ferida.

 

Quando isso acontece

Toda a Amazônia chora

Por saber que ali caiu

Um pouco de sua glória

E a floresta entristece

Porque a tristeza cresce

Somente a saudade aflora.

 

A pobre onça pintada

Vivia ali numa boa

Ver sua mata despida

Motor em vez de canoa

Olha o ipê destroçado

E o sangue derramado

Matam mais uma pessoa.

 

E aquele que morreu

Era um grande protetor

Acabou ficando órfã

Tem seu momento de dor

Mesmo assim ela procria

E cuida da sua cria

Com alegria e amor.

 

Dias desse uma zangou

Com toda aquela matança

Sem pensar ela entrou

No meio daquela dança

Com a raiva que ficou

Triturou um caçador

Porém sofreu a vingança.

 

Numa caçada cruel

Pra vingar o caçador

Uma cambada de homem

Armados e sem pudor

Andaram dias a fio

Com espingarda e fuzil

E nos olhos muito furor.

 

Encontraram a coitada

E mataram sem piedade

Metralharam a pobrezinha

Sem a menor piedade

Em uma enorme covardia

Disseram que merecia

Ainda mais atrocidades.

 

A carne ninguém comeu

E o couro todo furado

Não serviu nem pra tapete

Ô homenzinho malvado!

Mataram sem ter perdão

A onça em extinção

E o IBAMA ficou calado.

 

Não pensaram um momento

Porque ela se revoltou

Estava em seu habitat

Invadido por caçador

Mataram pai, mãe e filho

Por isso saiu do trilho

Desesperada atacou.

 

Logo a turba enfurecida

Deram a sentença de morte

Sem direito a defesa

Com seus armamentos fortes

Fez-se a onça encurralada

E sem pena metralhada

Em uma mata no Norte.

 

Deixemos a pobre onça

Que foi morar com Tupã

Para falar do passado

E lógico, do amanhã

Se é que podemos ter

Outro belo amanhecer

Sem mordida na maçã.

 

Quem defende o ambiente

Tem seu destino traçado

Igual a onça que foi

Sem perdão sentenciado

Por sumária execução

Morre mesmo com razão

E sem sequer ser julgado.

 

Eis o grande Chico Mendes

Um dos primeiros da lista

Executado ainda foi

Chamado de comunista

O velho discurso antigo

Para eleger como inimigo

O grande ambientalista.

 

Irmã Dorothy assassinada

Mataram-na covardemente

A Amazônia de luto

Vendo os dentes da serpente

É morte todos os dias

Enquanto na letargia

Do vereador ao presidente

 

De lá pra cá tantos outros

Perderam a vida lutando

E o estado brasileiro

Apenas observando,

Pois quem está no poder

Parece até que nada ver

E vai seus panos passando.

 

Não vamos aqui falar

Nem vamos trazer à tona

De todos que aqui morreram

Defendendo a nossa “zona”

Tanto sangue em desvario

Que dá pra encher um rio

Maior do que o Amazonas.

 

A nossa Amazônia chora

Tanto sangue derramado

E o moto serra roncando

Outro angelim é sangrado

E o madeireiro com orgulho

Comemora a queda, o barulho

Porém Tupã tem chorado.

 

Noutro espaço o garimpeiro

Com seus monstros fulminantes

Vai arrebentando tudo

E outro angelim gigante

Abre uma grande clareira

Criando lama e poeira

Matando tudo em instante.

 

A guariba atordoada

Grita: corre macacada!

O mundo está se acabando

E não podemos fazer nada

Aos poucos ficam ilhados

E o caçador malvado

Tem sua glória alcançada.

 

A pobre onça esturra

Querendo impor o medo

Mas o homem endiabrado

Já sabe qual o segredo

Se até Tupã foi embora

Não aguentou, caiu fora

Fica a onça sem enredo.

 

Assim a grande Amazônia

Vai ficando um campo aberto

Os rios vão lixiviando

E o caminho está certo

No ritmo que estamos indo

A natureza destruindo

Logo teremos um deserto.

Mesmo não sendo adivinho

É fácil prever a dor

Há pouco não tem mais peixe

A água muda de cor

Fome, miséria e desgraça

Sem vida não há mais graça

Somente um grande estupor.

 

E a onça ainda resiste,

Porém não por muito tempo

Cada dia uma cai

Nesse chão de sofrimento

Passarinhos já não cantam

As capivaras e as antas

Desaparecem ao vento.

 

Papagaio já não fala

Arara é raro se ver

A palavra de ordem é ouro

Sentimento, enriquecer

Nem que seja destruindo

Vendo tudo se ruindo

E toda a vida morrer.

 

Tupã, ó grande Tupã!

Por que desapareceu?

Quero crer que está voltando

Vem cuidar dos bichos seus

A onça pintada chora

A macacada implora

A volta do grande deus.

 

Do jeito que vão as coisas

Sem ver luz no amanhã

Sem uma política pública

Com a pintada no divã

Não tem quem possa ajudar

Só nos resta apelar

À força do deus Tupã.

 

Enquanto isso, lutemos

Nos tornemos consciente

Que nós somos solução

E o veneno da serpente

Somos veneno e antídoto

Por isso digo e repito

A Amazônia precisa da gente.

 

A onça e todos os bichos

Todos os microrganismos

Se não agirmos agora

Não pararmos com cinismo

Em pouco tempo não resta

Bichos, rios e florestas

Estamos à beira do abismo.

 

Não é luta para um só

É luta de todo o povo

Governos, população

Pra sairmos desse estorvo

E ver a onça pintada

Em festa com a macacada

Livre e “sorrindo” de novo.

 

Deixo um alerta aos pais

Que a esse cordel ler

Ensinem suas crianças

Qual o certo a se fazer

Se tivemos em outrora

Uma bela fauna e flora

Eles também podem ter.

 

Mas para isso é preciso

Dar a eles sustentação

Ensinar-lhes o bom caminho

Com muita dedicação

Tudo começa em casa

São os pais que dão as asas

De uma boa educação.

 

Deixo aqui o meu abraço

A quem leu esse cordel

Peço a união de todos

Para cumprir seu papel

E com a preservação

Não tenha a onça extinção

A ela eu tiro o chapéu.

 

 

 

 

 

 

 

 

Joel Marinho
Enviado por Joel Marinho em 12/11/2022
Alterado em 13/11/2022
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