Joel Marinho
Entre letras e versos
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NOVO ENSINO MÉDIO OU O DISCURSO DISFARÇADO DE MODERNO

JOEL MARINHO

É um mingau de caroço

O tal novo ensino médio

Para alunos e professores

Tornou-se um tremendo tédio

Expliquem-me compassado

Como se faz um telhado

Sem ter fundação o prédio?

 

Na verdade, nada é novo

Esse enredo é conhecido

Separar ricos de pobres

Disso nós somos sabidos

Menos oportunidades

Para a universidade

A esse povo sofrido.

 

Uma roupagem moderna

Do que antes existia

Pobre em universidade?

Credo em Deus, Ave Maria!

Quando o pobre ali chegou

Veio a ideia do horror

Em quem ali “residia”.

 

Logo surgiu o discurso

Abjeto, vil, traiçoeiro

Universidades federais

É antro de maconheiro

Essa estigmatização

Já se tornou um bordão

Que cruza o Brasil inteiro.

 

As camadas média e alta

Disseram, isso é sacrilégio

Como esses pretos e pobres

Tiram nossos privilégios?

E nessa insatisfação

Vem a articulação

Em forma de sortilégio.

 

Que cega a vista do pobre

Com o discurso de mudança

Que acaba acreditando

Ser essa a grande esperança

Tiram o doce devagar

Pra ninguém se revoltar

Igual tiram das crianças.

 

Foi aí que enjambraram

Essa invenção do mal

O tal novo ensino médio

E implementaram afinal

Empurraram goela abaixo

Eu pergunto, onde me encaixo

Nessa zorra “canibal”.

 

Na verdade, é que esse novo

É um velho travestido

Tornar as escolas públicas

Naquilo que é pedido

Uma “fábrica” de operário

Que ganha um mísero salário

E que sejam comedidos.

 

Por isso são retirados

Da base curricular

Quase todos os estudos

Daquilo que faz pensar

Limitam a Filosofia

História e Sociologia

Com um discurso vulgar.

 

Tornar o pobre calado

Foi sempre essa intenção

Cortar dele o pensamento

Mantê-lo na inviabilização

E para isso só precisa

Tirar dele a “camisa”

Negando-o a educação.

 

Eu sou pobre “perigoso”

Fui para a universidade

Para filho de retirantes

Não podia ser verdade

Fui chamado de maconheiro

Comunista, desordeiro

Por parte da sociedade.

 

 Só porque não aceitei

Esse circo de horror

Tornei-me um grande perigo

Pasmem, isso não passou

Por ser professor agora

O estigma que vem de fora

É que sou doutrinador.

 

Mas voltemos ao início

Já preciso terminar

Deixando aqui meu recado

De forma bem devagar

Daqui a pouco sou taxado

De comunista desgraçado

Que só pensa em reclamar.

 

Mas o novo ensino médio

Uma comédia sem graça

Pois quando o ENEM cobrar

Os jovens caem em desgraça

Lá precisam de saber

Muito estudo pra valer

E se não souber não passa.

 

Quem vai levar mais vantagem?

Nem preciso responder!

Quem estuda noite e dia

Sem mais nada para fazer

Esse que tem com certeza

O melhor que tem na mesa

E esse quem vai comer.

 

Mas na verdade, é essa

A maior da intenção

Manter o pobre na peia

Sofrendo humilhação

Engolir tudo calado

Se chorar será julgado

Um salafrário, ladrão.

 

As camadas média e alta

Tem sua luta, afinal

Manter os seus privilégios

Do período colonial

Nada de pobre atrevido

O “senhor” quer ser servido

Por um “escravo” ou serviçal.

 

Então, nada diferente

O “novo” é velho demais

No ciclo dos privilégios

Ascenda quem for capaz

Como ter capacidade?

Sem ter oportunidade

Muitos ficarão pra trás.

 

Assim cria a ilusão

Do novo empreendedor

O discurso de crescimento

Que vai gerar muita dor

Impõe essa divisão

Irmão luta contra irmão

E morre em seu estupor.

 

E se alguém alertar

Já entra logo na lista

Vagabundo, maconheiro!

Um discípulo marxista

Morte a esse condenado!

Porque já foi pré-julgado

Pelo “crime” de comunista.

 

O pior de tudo isso

É que a grande maioria

Que tem essa opinião

Nem sabe o que é mais-valia

Segue o comando do “dono”

Morre triste no abandono

E jamais leu Marx um dia.

 

Não que também acredite

Nesse tal socialismo

Vejo grande hipocrisia

Desleixo e muito cinismo

Falha em organização

E com o poder nas mãos

É quase um capitalismo.

 

Mas uma coisa nos deu

Talvez a melhor herança

De que a luta de classe

É um ponto de esperança

Se não tivermos unidos

Direitos são destruídos

Levam nossa confiança.

 

Tudo está embutido

Nesse novo ensino médio

Há um comando de cima

Que olha do topo do prédio

Nos tornam como ventríloquos

Manipulam, nos deixam loucos

Em uma vida de tédio.

 

Mas se é isso que o povo quer

Quem sou eu para mudar

Vamos ter muito empresários

É um em cada lugar

O discurso do momento

É o tal empreendimento

Que todos vão alcançar.

 

A pergunta que não cala

Como vão empreender?

Se muitos pobres coitados

Não tem nem o que comer

Mas isso é fácil, meu bem

Pegue um que se deu bem

É o exemplo para você.

 

Se por acaso não der

Você será o culpado

Como deu certo com outro?

Jumento, burro, tapado!

É fácil empreender

Só basta compreender

Que precisa ter uns trocados.

 

Eu vou ficar por aqui

Torcendo pra que dê certo

Vamos lutar pelo “novo”

Que o sucesso está perto

Cada qual em seu quadrado

Quando o ENEM for chegado

Já vem com seu laço aberto.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Joel Marinho
Enviado por Joel Marinho em 21/02/2023
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