Joel Marinho
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O QUE VOCÊS FIZERAM COM MEU NOME?
O QUE VOCÊS FIZERAM COM MEU NOME?
JOEL MARINHO
Se Jesus Cristo voltasse agora ao se deparar com o tal cristianismo essa seria talvez a frase falada por ele após o susto: “O QUE VOCÊS FIZERAM COM O MEU NOME?”
Apoiado pelos ideais de Jesus Cristo o cristianismo surgiu dentre tantas religiões com um discurso de humildade, amor e liberdade, descrito nos evangelhos escritos após a morte de Jesus. Assim cresceu e se popularizou ainda no período que o seu criador esteve aqui na terra, cresceu a ponto de ele ser perseguido, preso, condenado e morto e pasmem vocês, pelos romanos e pelos próprios judeus que o consideravam uma farsa, na linguagem de hoje, uma Fake News.
Mas mataram o homem de carne e osso, no entanto, ficaram seus ideais que logo foram escrito e seguido pelos primeiros grupos cristãos ainda com a humildade, união e respeito aos outros como seu criador havia falado, por isso continuou sendo perseguido.
Com o seu crescimento procurou articular sua colocação política dentro do grande Império Romano, sendo liberado seus cultos em 313, período do imperador Constantino I, o Grande. Estava dado a largada para o enriquecimento econômico e politico daquela que seria tornada igreja oficial romana em 380, com o imperador Teodósio ao promulgar o Édito de Tessalônica. Eis agora o grande cristianismo.
Quem diria que uma seita surgida nos “cafundós do Judas” se tornasse tão grande a ponto de dominar o todo poderoso Império Romano, quiçá o mundo conhecido” quase por inteiro e perseguir todos aqueles que porventura discordassem de sua ideologia. Todos os outros eram agora “pagãos e hereges”, indignos e perseguidos, pois a religião passou a fazer parte do estado (cesaropapismo), condenando e punindo, inclusive com perdas de direitos civis aqueles que não professassem a fé cristã.
E Jesus Cristo, aquele humilde carpinteiro pregador da humildade, ajuda ao próximo, defensor de prostitutas e ladrões, onde estava? Provavelmente já haviam apunhalado ele mais uma vez pelas costas! Pobre Jesus Cristo, aquele que acreditou nos homens dando a vida em sacrifício, foi novamente “crucificado” e esquecido por aqueles que agora diziam seus seguidores.
E “em nome de Jesus” montaram seu império sugando o sangue e a alma dos menos favorecidos e os punindo em nome desse mesmo deus que com certeza não concordaria jamais com as atrocidades cometidas, tudo em busca de riqueza e poder político.
Mesmo com o fim do Império Romano o cristianismo não foi tão abalado, tornando-se o carro chefe de todo o período feudal ou medieval, dava as cartas e no jogo sempre ganhava, pois quem se atrevesse contra a religião estaria se atrevendo contra o próprio Cristo. Que o diga os Cátaros e Albigenses, tão perseguidos que “obrigou” a igreja criar instituição específica como o Tribunal do Santo Ofício (Santa Inquisição) em 1233 pelo papa Gregório IX para persegui-los.
Entre perguntas, torturas psicológicas e físicas que muitas vezes culminava na morte do indivíduo a Santa Inquisição teve seu funcionamento até o século 18, inclusive seus tentáculos chegaram aqui na região norte, na cidade de Belém do Pará.
Perseguiram mulheres e homens simples sob a alcunha de bruxas e bruxos, homossexuais ou qualquer pessoa que processasse outra religião. Perseguiu até cristãos que surgiram após o século 16 com o advento do protestantismo começado com Marinho Lutero.
Pasmem vocês, cristão perseguindo cristão. E mais uma vez, onde estava Cristo?
“Fogueiras santas”, torturas diversas. Não, não podia ser a mando de Jesus Cristo, ele não podia ter mudado tanto de opinião.
Joana D’arc, pobre Joana sendo consumida no fogo por ter cometido tão grande pecado, “ouvir vozes e ter visões” o tornado exímia guerreira na Guerra dos cem anos da França contra a Inglaterra. Foi considerada bruxa, logo merecia morrer em nome de Jesus Cristo, disseram eles. Mas se Cristo perdoou uma meretriz por que não perdoaria Joana D’arc, ainda uma adolescente?
Além de Joana outros personagens conhecidos e desconhecidos foram calados e mortos como o padre Giordano Bruno que também era físico e qual foi o seu grande pecado?  Abraçou a teoria heliocêntrica de Nicolau Copérnico do Universo Infinito e o sol como o centro do Universo. Para quê? Virou “churrasquinho” na “fogueira santa”. Em nome de Jesus? Ao menos era o que eles diziam.
Pobre Galileu Galilei, também inventou de seguir o pensamento do Copérnico, quase se “lascou”. Escapou da fogueira, porém teve que viver em prisão domiciliar pelo resto da vida sujeitado pelos terrivelmente cristãos.
No decorrer desses mais de dois mil anos o cristianismo se expandiu, criou tentáculos e novas formas, todavia a sua forma de agir se sobrepondo a tudo e a todos continua até nossos dias. Foi capaz de justificar guerras diversas como Primeira e Segunda no século 20, foi capaz de justificar mais de 300 anos de escravidão no Brasil só no período moderno contra os povos africanos e por um tempo indígena e é capaz de justificar cada atrocidade atualmente que o próprio Jesus Cristo deve ter imensa vergonha de ver seu nome em meio a toda essa lama.
Por falar em nossos dias vou citar uma fala muito atual de um pastor contra a comunidade LGBTQIA+: "Aí Deus fala: 'não posso mais, já meti esse arco-íris aí, se eu pudesse eu matava tudo e começava tudo de novo. Mas já prometi pra mim mesmo que não posso, então agora tá com vocês.'"  (Então ele falou com Deus?”
“Tá com vocês?” Para bom entendedor uma fala é o suficiente para incitar todo um povo à guerra, vide a tradução mal elaborada de uma frase feita por Martinho Lutero da Bíblia no século 16 que causou uma guerra com milhares de soldados e camponeses mortos depois de um sangrento conflito, tendo, segundo a História o próprio Martinho entrado em depressão por conta disso, visto não ser aquilo que queria causar. Apenas mostrando aqui o quanto a força de uma fala pode ser fatal em determinados momentos históricos.
E onde está Jesus Cristo em meio a tudo isso? Provavelmente se tivesse aqui estaria morrendo de vergonha por ter seu nome usado nesse mar lamacento dos “terrivelmente cristãos” que a cada dia tem seu império patrimonial aumentado pelas doações e dízimos pagos muitas vezes por pessoas tão desprovida de bens a ponto de tirar de sua própria alimentação para não faltar com o seu pastor.
Não, eu não me considero cristão por conta de toda essa infâmia criada em dois milênios em nome de um ser de luz que só pregava a paz, a igualdade entre a humanidade e o amor. Não sou cristão, mas me identifico demais com a figura e ações de Jesus Cristo de amar as pessoas sem julgamentos e/ou preconceitos e morrer ao lado de dois ladrões, inclusive prometendo lembrar dele no paraíso, contrariando muitas falas de “cristãos” atuais.
Atualmente já ando receoso de tecer uma fala ou comentário com os “terrivelmente evangélicos” como eles se autodenominam, pois pela tara que tem de andarem com uma arma na cintura e pela fala de “pastores” como esse eu poderei ser a próxima vítima, não mais da “fogueira santa” da “Santa Inquisição”, mas pela bala de uma Ponto 40 lambendo a minha testa.
Mas ainda acredito no cristão que segue os ensinamentos deixados por Jesus Cristo e por eles eu tenho muito apreço e respeito como tenho por qualquer outro segmento religioso que respeite inteiramente o ser humano, mesmo não concordando com algumas atitudes do outro.
Um homem que morreu ao lado de dois ladrões, abraçava leprosos, mendigos e perdoava prostitutas, além de ter tido a coragem de dizer: “Deem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” com certeza não teria a mínima chance de andar nos carros importados e blindados de pastores “terrivelmente cristãos”. A chance com certeza absoluta seria zero, a não ser que lhes rendesse uns dízimos e/ou uns votos para assumirem cargos públicos eleitoreiros.
Joel Marinho
Enviado por Joel Marinho em 04/07/2023
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