A IMPORTÂNCIA DO FIOFÓ
JOEL MARIMHO
Um dia os órgãos do corpo
Falaram uma linguagem só
Que não aguentavam mais
Conviver com o fiofó
E em uma reunião
Chegaram à conclusão
De excluí-lo sem dó.
O cérebro todo pomposo
Como um deus, disse é hora!
De mandar esse abjeto
Do nosso meio agora
Não serve a quase nada
A não ser fazer cagada
E jogar fezes pra fora.
Todos os órgãos gritaram
É isso ai, companheiro!
Vamos excluir para sempre
O fiofó, forasteiro
Esse ser vil e nojento
Com seu odor fedorento
Mal visto no mundo inteiro.
O coração pululante
Vibrava de alegria
O fígado batendo palmas
Dando glórias de alegria
A língua toda afiada
Gritava toda animada
Enquanto o baço sorria.
Todos os órgãos do corpo
Queriam comemorar
Naquela noite histórica
Saíram feliz para um bar
Somente o intestino grosso
Não curtiu tal alvoroço
E disse, não vai prestar.
Mas deixemos os outros órgãos
Festejando a exclusão
Falemos do fiofó
Vendo a comemoração
Arrumou as suas malas
Fumou um cigarro na sala
Mais sisudo que o cão.
Disse ele, vou embora,
Pois não aguentava mais
Com todos os bullyings vividos
Tinha perdido a paz
Foram tantos apelidos
Que o pobre havia sofrido
Naquele mundo voraz.
Fiofó, cu, enrugado,
Boca de couro, bufante,
Esgoto, boca de bilha,
Apito, bocal, peidante,
Brioco, boga, buzeco,
Anel de couro, caneco,
Olho de porco, cegante.
Isso é só um pouquinho
Dos nomes dado ao bocal
Além de Ânus que é
O seu nome oficial
Esse é o menos usado
E assim ficou desprezado
E todos o tratando mal.
Naquela grande tristeza
E se sentindo tão só
A emoção tomou conta
Do pobre do fiofó
Disse, eu vou cair fora,
Mas chegará minha hora
Não darei ponto sem nó.
Ao sair fora do corpo
Os órgãos todos contentes
Ficaram batendo palmas
E gritando insolentes,
Mas o boga aprontou
Antes de sair fechou
O intestino com corrente.
Saiu mais triste que o Chaves
Ao ser expulso da Vila
E o bolo alimentar
No intestino fez fila
O intestino gritou
Galera, o bicho pegou!
Chamem de volta o Anila.
O cérebro com arrogância
Ainda puxou pra trás,
Mas o coração falou
Cérebro, veja o que faz
Se o fiofó não voltar
Não iremos aguentar
E logo todo o corpo jaz.
Então reuniram às pressas
E convocaram o fiofó
Que de início fez “cu doce”
E disse, reúnam só
Já que não sou importante
Falem ao cérebro arrogante
Que desatem esse nó.
O coração lastimoso
Falou ao pé do ouvido
Por favor, salvem a todos!
Sei que fomos maluvidos
Desculpe a ignorância
Descobrimos a importância
Nos ajudem, meu querido!
Assim o boga aceitou
A essa convocação
Uma assembleia ordinária
Ele no meio do salão
Então ficou escutando
Todos os órgãos falando
Aquela lamentação.
Ele então pediu a fala
Todos querendo o ouvir
Falou, eu bem que podia
Com o mal retribuir,
No entanto, não vou fazer
Mas antes de os socorrer
Quero registrar aqui.
Disse, a partir de hoje
Não há aqui exclusão
Todos os órgãos são iguais
Do pequenino ao grandão
E antes de os aliviar
Quero bem alto escutar
Um pedido de perdão.
E sobretudo do cérebro
O comandante geral
Que devia ter juízo
E não causasse esse mal
Que tenha mais humildade
Use a razão e a verdade,
Mas também o emocional.
Outra e a última exigência
E não é só um pedido
Porque a partir de hoje
Não existirá apelidos
Todos têm um nome aqui
Bullying não pode existir
Estamos todos entendidos?
Sim, senhor, gritou a turba
Dando vivas ao corrugado
Ops, tinha esquecido
Apelido foi cortado
É Ânus e nada mais
Não vamos tirar a paz
Desse órgão tão amado.
Voltando ao seu lugar
Foi fazer o seu papel
Aliviou o intestino
Daquela dor tão cruel
E a partir daquela instância
Perceberam a importância
Do bendito carretel.
Fica aí o meu recado
Não desdenhe de ninguém
Até os mais escondidos
Assim como o Sedém
Você só vai entender
Se acaso vier perder
A importância que o outro tem.
Daquele dia em diante
Mediante aquela lição
Os órgãos viveram em paz
Na mais perfeita união
Depois que o cérebro chorou
E de joelho implorou
Para o furico perdão.