CRIANDO MEMÓRIAS O que me fez tão firme senão aqueles dias Nadando no lago represado do meu avô Guaribas gritando, maracajás Maracás e som de viola. A lida na roça era pesada A enxada, o terçado, o machado A esperança é a última que morre, Diziam os de mais idade, Mas eu não via ali tal esperança. Era sonho de criança ganhar o mundo? Mamãe cantava aquela melodia: “Sonhos de menino sonhar num sono mais profundo”. Não sabia quem era o autor, interprete Então Chico da Silva ganhou-me, Mas pela voz de minha mãe, claro! Que eu entendia de forma literal. O mundo era duro, a lida E eu fui moldado bruto Tomando banho de açude E comendo pirão escaldado Com peixe pescado ali mesmo. Tenho saudades das manhãs frias Do afago de meu pai, poucas vezes Quando penteava meus cabelos. As mãos pesadas e calejadas Eram duras, porém confortante Pegava em meu queixo E segurava firme E aquele pente parecia tão suave Era um relance de carinho, Raro, diga-se de passagem, Mas o suficiente para criar imagem, Imagem na minha memória E nesse momento de lembrança O velho poeta chora emocionado. JOEL MARINHO
Joel Marinho
Enviado por Joel Marinho em 04/05/2024
Alterado em 04/05/2024 |