PERDÃO, PERDÃO, MACHADO!
POR JOEL MARINHO
Antes que os vermes comam o meu corpo preciso te contrariar, pois deixastes espaço para isso quando não deu um fim especial a Bentinho e Capitu, logo abriu caminho para os diversos pensamentos machistas manchar a honra dessa grande mulher que foi até o fim de seu relacionamento fiel ao seu marido mesmo mediante a tantos despautérios por parte dele, um velho ranzinza, porém travestido de um menino mimado e acometido por um narcisismo sem precedente, capaz de desconfiar e acreditar em seu próprio pensamento doentio.
Capitu, por sua vez foi perdendo ao longo do tempo o fervor que sentia por Bentinho e ainda na Suíça conheceu um francês e mesmo ela já sendo uma mulher cinquentona ainda trazia em si um encanto imutável e apaixonante, qualidades essas capazes de fazer Yves Arnaud se apaixonar loucamente.
Ela ainda relutou por um tempo na esperança de ver seu marido entrar pela porta da frente, abraçá-la e esquecer toda aquela paranoia que ele nutrira por toda a vida contra ela, porém as esperanças foram desvanecendo com o distanciamento do tempo.
Capitu resolveu conhecer um pouco mais daquele homem que lhe prometeu pouca coisa, todavia, não lhe cobrou nada de volta, ficava encantado apenas com o sorriso dela, pois dizia ele; isso me basta, “ma belle”, esperarei o quanto for preciso pela sua decisão.
Assim sendo, certo dia Capitu resolveu ir até a França onde conheceu os parentes de Yves Arnaud e então que soube que ele era dono de uma grande riqueza e aquilo o assustou, quis ir embora. Entretanto, ele não desistiu e a convenceu de passar ao menos aquela noite com ela.
A noite foi linda, mas em nenhum momento ela deu espaço para que ele avançasse qualquer sinal e no outro dia voltaram para a Suíça onde ele tinha negócios a tratar.
Com o passar do tempo as coisas foram acontecendo naturalmente e quando ela percebeu estava totalmente apaixonada por ele e vice versa. Afinal, ela nunca sonhara em viver um romance tão lindo e sem cobranças, nem em seus melhores sonhos aquilo poderia acontecer, estava petrificada de amor.
Certo dia Ives falou-lhe da vontade que tinha em conhecer o Brasil e quem sabe manter uma filial de sua empresa de tecidos no Rio de Janeiro. Queria conhecer o Brasil e as raízes familiar de sua amada, inclusive queria falar com Bentinho, pois pretendia atar um casamento com Capitu, mas devido ela ser casada havia esse grande impedimento.
Viajaram para o Brasil, durante a viagem falaram da vida, do futuro, mas havia uma certa apreensão, pois não saberiam como Bentinho reagiria com a notícia. Desembarcaram no Rio de Janeiro e foram direto para um hotel tomar um belo banho e descansar, pois apesar de ter sido agradável a viagem fora longa e cansativa.
No dia seguinte foram até a casa de Bentinho. Ao bater a porta uma “criada” abriu e perguntou o que queriam. Capitu pediu para falar com Bentinho e logo foram levados ao escritório dele. Lá estava aquele homem com aparência triste e sem nenhum brilho no olhar, a não ser quando se virou e deu de cara com os dois.
Os olhos esbugalhados de Bentinho não deixaram dúvidas que ele perdera a mulher para sempre e que finalmente poderia gritar aos quatro cantos do mundo que ela era uma traidora. Mas quando quis se exaltar o sorriso calmo de Yves o fez retroceder e se recompor.
- Afinal, o que vocês querem aqui?
- Apenas o divórcio, falou Capitu.
- Jamais, jamais, gritou Bentinho!
- Então tudo bem, falou Capitu, sendo assim não há mais o que fazer aqui, voltaremos para a França e lá podemos viver em paz, pois com as leis europeias poderemos quem sabe até nos casar.
Bentinho começou tremer de raiva e foi ficando torto na cadeira. Yves Arnaud correu até ele e segurou para não cair. Desfigurando-se Bentinho deu seu último suspiro e faleceu nos braços de seu rival.
Uma semana após o enterro de Bentinho Capitu voltou para a Europa com Yves onde casaram-se e ela se tornou uma das mulheres mais influentes na Europa e no Brasil, onde abriram uma filial no Rio de Janeiro com quinhentos funcionários.
Já com idade avançada e após ter vivido um tempo muito feliz desde a morte de Bentinho, Capitu fez um discurso enérgico na inauguração de uma nova filial em São Paulo, agora com um n úmero de cinco mil funcionários.
- Digam o que quiser e podem continuar dizendo por muitos anos e quem sabe até daqui há um século ou alguns milênios que traí o Bentinho por conta das invenções dele, minha consciência é limpa quanto a água mais cristalina da fonte mais limpa do mundo. Não, eu não o traí e mesmo quando ele sumiu de minha vida ainda o esperei por muito tempo, todavia, jamais apareceu. Mas a opinião dos outros serão apenas opinião, quanto a minha verdade será sempre minha e de mais ninguém, isso a mim é o que importa e mais nada, a partir de hoje não tocarei mais nesse assunto para tentar justificar a minha verdade.
Entre os aplausos de pé daquela plateia Yves Arnaud o abraçou e beijou-lhe apaixonadamente como se estivesse beijando pela primeira vez e com um português meio arrastado ele falou: Amo-te, minha bela Capitu!