Joel Marinho
Entre letras e versos
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O SUMIÇO DO MACACO JALIL (Talaricos aqui não passarão!)

POR JOEL MARINHO

Em uma savana do Quênia os animais viviam em harmonia, a última guerra já fazia 15 anos, desde que o leão Talib assumiu o trono e se casou com a leoa Adimu. É lógico que como o grande rei ele tinha direito de desposar quantas leoas quisesse, mas por respeito e amor a sua “Di”, como costumava chamar acabou optando por um casamento monogâmico e jamais buscou outras mulheres para fins de prazeres mundanos, mesmo que fosse cercado por mulheres, quase todo o seu ministério era formado pelo sexo feminino e assim a paz reinava naquela vasta e feliz savana.

Talib era um rei respeitado e adorado por todos os seus súditos, sempre teve uma reputação ilibada e um governo honesto, em 15 anos de governo sequer teve uma só reclamação de ter feito algo que prejudicasse seus súditos, mas como em todo paraíso existirá sempre um “Adão” para pisar na bola e começar um burburinho havia ali o macaco que atendia pelo nome de Jalil.

Jalil era um daqueles caras “escovado”, era muito popular e querido por todos, porém um malandro velho inveterado, vivia a aprontar das suas macaquices. Por ser assim não muito confiável nunca arrumou casamento, vivia pulando de galho em galho e as macacas já espertas nunca caíam na lábia do malandro, salvo aquelas que só queriam um final de semana de curtição e um macaco que os ajudasse a encontrar comida quando ficava escasso.

O danado do Jalil certo dia resolveu dar em cima da mulher do leão, não respeitou nem as barbas do velho rei, mas para o azar dele, Kito um membro da guarda imperial viu as suas gracinhas pra cima da rainha e mais ninguém viu, o segredo ficou apenas entre os três envolvidos, ao menos era o que se pensava, mas em poucos dias todos olhavam para o macaco com ar de desconfiança, porém ninguém falava nada.

Dias depois a família de Jalil comunicou seu sumiço à polícia que abriu um procedimento de investigação. Como era de costume ele sumir e passar dois ou três dias desaparecido os familiares só deram o alerta cerca de oito dias depois.

Procura-se o macaco sumido em toda a savana. O elefante Garai que era o chefe da polícia foi designado para encontrar Jalil vivo ou morto, pois naquelas alturas a família já considerava impossível encontrar ao menos os restos mortais.

Teria sido comido por um leão faminto, um crocodilo, um hipopótamo ou um grupo de bravas hienas? Mas era impossível, desde que assumiu o poder Talib havia baixado um decreto para que todos os animais se tornassem herbívoros e assim manter um reino sem guerras.

Mas o que teria acontecido com Jalil? Eis a pergunta que ecoava em toda a savana e nenhuma resposta ou pista capaz de levar até ele. A família queria resposta, mas quanto mais se investigava mais se chegava à conclusão de um crime perfeito. Até o rei emitiu comunicado oferecendo uma recompensa a quem levasse ao paradeiro do macaco.

Já havido passado alguns meses e sem nenhuma esperança só restava a família lamentar a perda do pobre Jalil que tão cedo foi embora e nem se despediu dos seus.

De repente naquela manhã fria há exatos nove meses de seu desaparecimento a irmã mais nova do macaco, Malaika acordou com os gemidos vindos da direção da entrada de casa. Quando ela abriu a porta ele já estava arquejando perto de dar o suspiro final, porém ainda teve tempo e força para dizer:

- A rainha, a rainha, a rai...!

Desesperada ela o abraçou gritando:

- Irmão, irmão, fala comigo!

Ele apenas desfaleceu e morreu em seus braços.

Ao tirarem o resto de pano que sobrou de sua camisa ensanguentada havia um bilhete no bolso com os seguintes dizeres:

Talaricos aqui não passarão!

A mensagem solta não era o suficiente para concluir uma investigação e assim Garai deu por encerrado os trabalhos e as causas da morte de Jalil nunca foi desvendada, porém aquela frase virou uma espécie de cultura do medo na savana, quando alguém olhava diferente à mulher de outro vinha logo a expressão:

Talaricos aqui não passarão!

Bem parecido como:

Não comerás da maçã, o fruto proibido!

 

 

 

 

Joel Marinho
Enviado por Joel Marinho em 30/06/2024
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