FALANDO ÀS PARADES (Monólogo de um homem só)
Texto: Joel Marinho
Foi-se o tempo em que havia uma minoria em sala de aula sem rumo, sem vontade, sem a alegria da descoberta, aqueles que de forma pejorativa eram classificados como “burros”, os que “não aprendiam”. Hoje a conotação é outra, temos cerca de noventa por cento de alunos totalmente desconectados da realidade quando estão dentro de sala de aula, são como “zumbis”, cujo corpo está ali, porém a vontade, o prazer pelo estudo e pela descoberta científica é o que menos importa para a maioria deles, salvo poucas exceções.
E nós, os professores acabamos adoecendo diante a triste realidade, sobretudo no pós-pandemia. Mudamos a nossa abordagem pedagógica no intuito de trazer novas formas de aprender, nos “tecnologizamos”, ou seja, tentamos falar pela ótica da linguagem juvenil, mas é como se nada desse certo, logo sentimos a marca da frustração, perdemos de fato para a tecnologia “bestial” que os imbeciliza de uma forma tão grandiosa ao ponto de não enxergarem as perdas dos próprios futuros.
Assim segue o bonde, mentes inundadas de conteúdos supérfluos e devaneios de riqueza fácil plantada por uma meia dúzia de imbecis chamados de influencers. Dessa forma passam o dia inteiro em redes sociais ou jogos, muitas vezes a isca para caírem no vil mundo da pedofilia e prostituição juvenil ao serem coagidos a enviar fotografias e vídeos indevidos do próprio corpo.
A tecnologia, essa arma tão poderosa que se usada para o bem se torna extraordinária, mas quando o mal nela adentra embrutece e emburrece os seres humanos.
Enquanto isso, professores começam a entrar em quadro depressivo e frustrado ao se ver em monólogo em salas de aulas lotadas onde a coisa menos importante aos alunos é o conteúdo passado, assim como as experiências de vida da mestra ou do mestre ali presente.
E ai do professor que abruptamente frustrar o jovem ao pedir para o mimado guardar seu telefone, faz careta, chora, vai às redes sociais denunciar o fato porque segundo a ótica atual o jovem não pode mais ser frustrado, mesmo estando totalmente errado. Chega logo os pais ou responsáveis e já viu para que lado a corda quebra.
Por vezes tenho a impressão de estar realmente falando às paredes e ecoando a mim mesmo aquilo o qual eu aprendi para repassar aos jovens. Tem alguns momentos que dá aquela vontade de jogar tudo para o ar e gritar, dane-se! Mas em meio a tudo isso há ainda alguns bons frutos, poucos, é bem verdade, porém capaz de aquecer o coração para continuar com essa luta constante.
O mais difícil diante a tudo isso é ver tantas mentes vazias de conteúdo bom e alegria se acabando diante de algumas frustrações da vida, as quais são inevitáveis, simplesmente por não terem sido frustrado quando criança e adolescente. Eis a estatística de tantos jovens que tiram a própria vida por não terem aprendido o mais básico dos básicos, a frustração.
Do mesmo modo temos tantos professores adoecidos por querer colocar a bagunça familiar de seus alunos em ordem, fator inalcançável. Mas mesmo sem querer acabamos sofrendo com isso, pois a nós é uma frustração terrível quando vemos muitos dos nossos jovens se perder no meio da estrada. Digo que sofro demais com isso, todavia, aprendi uma lição simples e direta: cada ser humano precisa aprender a carregar a sua própria carga, seu próprio fardo e mesmo que queiramos jamais poderemos levar a carga de ninguém, talvez essa tenha sido a minha estratégia para sobreviver em meio a todo esse caos, nesse monólogo de um homem só.