Joel Marinho
Entre letras e versos
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TUDO TEM SEU TEMPO E UTILIDADE, COMEÇO, MEIO E FIM

POR JOEL MARINHO

A finitude e a utilidade são realmente duas coisas muito louca, tudo tem seu começo, meio e fim, isso serve para animais, homens e objetos. A finitude é talvez o maior dos mistérios e a mais profunda sensação de vazio que nos faz apegar em crenças, deuses e dogmas inventados por nós mesmos.

E foi assim que eu vi uma discussão acirrada entre lápis, caneta, caderno e computador sobre finitude e utilidade. A velha caneta de bengala nas mãos gesticulava já com um pouco de dificuldade, pois sua tinta sem muita força para descer estava enrijecendo, por outro lado o lápis meio jogado em um cantinho da sala também não tinha muita força e cheio de cabelos brancos, por sua vez o caderno com as páginas amareladas mal podia se folhear. Enquanto isso o computador se regozijava em seu pleno auge todo cheio de arrogância

- Então, meus amiguinhos, entendo que vocês tiveram grande importância para o desenvolvimento humano, entretanto, é hora de se aposentar, em meu mundo estão obsoletos, não tem mais serventia para nada.

O lápis mais exaltado gritou:

- Deixe de ser arrogante, seu moleque! Apoiado pelo caderno que disse:

- É isso mesmo, camarada lápis, esse moleque se acha só porque está cheio de memória e caiu no gosto do povo.

O computador retrucou:

- Moleque não, me respeitem seus velhos sem noção, tenho mais memória que todos vocês construíram durante vossas sofríveis existências!

A caneta trêmula levantou-se, pois percebeu que era hora de intervir e com aquela razão e paciência que só as vozes femininas podem ter, falou.

- Calmem, meus amigos, calmem, sem exaltações, isso aqui é apenas uma discussão civilizada, temos que nos conformar mesmo amigos lápis e caderno, estamos de fato obsoletos, ou talvez não. E a você, amigo computador, cuidado com essa arrogância toda, um dia já fui jovem igual você é hoje, isso foi a muito tempo atrás quando aposentei as antigas penas e tinteiros e talvez lá também fui arrogante em algum momento, não lembro, talvez minha memória tenha de fato esquecido.

Parou um pouquinho, respirou e continuou:

- Mestre computador, seria bem mais legal de sua parte baixar um pouco o topete e agradecer por estar no auge de sua juventude, aproveite bem a sua estadia aqui na terra, talvez em breve estará jogado aterrado em algum lixão da vida, a História é implacável e o tempo não perdoa a ninguém e terás sorte se tiver vivido ao menos o tempo em que nós estamos vivendo, porque pelo andar da carruagem do desenvolvimento tecnológico não é de se espantar se daqui a meio século você seja apenas memória em uma fotografia na parede de alguém.

Com essas palavras houve na sala por alguns segundos um silêncio sepulcral até o computador reagir.

- Obrigado, nobre caneta e perdão a todos vocês por minha fala de empolgação, reconheço que me excedi e o que a senhora acabou de me falar é verdade mesmo. Lápis e caderno também se desculparam pelas falas agressivas e os quatro se abraçaram como forma de união e harmonia.

Meio que envergonhado o computador disse:

- Estava pensando em uma coisa aqui.

- Pois fale, retrucou o lápis!

- Fiquei pensando na minha arrogância. Vocês por mais que estejam se aposentando ainda terão serventia, até porque para vocês funcionarem precisam apenas de um cérebro pensante, já eu preciso de cérebros pensantes, energia elétrica e uma memória de armazenamento extra e ainda estou totalmente exposto a vírus que podem me aniquilar completamente em pouco tempo, já vocês apenas fungos pode trazer algum problema, mesmo assim continuarão funcionando. Mais uma vez peço perdão por minha audácia e desrespeito.

Assim terminou a querela e os quatro pegaram cada um uma taça de vinho para brindar a existência reconhecendo que no decorrer história tudo tem seu tempo e utilidade, ou seja, tudo tem início, meio e fim e toda arrogância um dia cairá por terra, isso é um fator inevitável e irreversível.

 

 

  

Joel Marinho
Enviado por Joel Marinho em 30/10/2024
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