Joel Marinho
Entre letras e versos
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O “PROBREMA” NÃO É O PROBLEMA: O PODER DA COMUNICABILIDADE DA LÍNGUA PORTUGUESA

POR JOEL MARINHO

Estava eu sentado na estação de ônibus já fazia uns trinta minutos e parecia tudo parado, nenhuma informação com relação ao que de fato havia ocorrido, ninguém sabia de nada, então continuei naquela espera angustiante a qual só os pobres sabem a sensação dessa epopeia, é de uma impotência sem fim, pois a única coisa que nós, menos favorecidos da sociedade queremos no final do dia é pegar a bendita condução e voltar para o seio familiar.

De repente uma senhora de mais ou menos uns 60 anos que estava vendendo alguma coisa se dirige até mim e pergunta:

- Meu filho, você sabe qual foi o “pobrema”?

Olhei para ela calmamente e respondi:

- Não senhora, até o presente momento nada foi repassado a mim.

Por um momento pensei em me aproximar daquela senhora e dizer a ela que o correto seria problema e não “pobrema”. Mas afinal, do que ia adiantar eu tentar corrigi-la? Só para mostrar meu ego de uma pessoa com um futuro título acadêmico? Ora, mas que besteira, refleti. Assim quanto a mim ela só queria chegar em casa para talvez ainda cuidar de um monte de afazeres e de suas crias! Aquele não era nem lugar, nem contexto para tentar fazer uma correção de língua portuguesa, ela talvez até me mandasse plantar coquinho no asfalto quente com meu “academês”, e seria com toda e absoluta razão,

Fui para casa pensando naquele “pobrema” percebendo que ele não causou nenhum problema de comunicabilidade entre mim e aquela distinta senhora. Quanto aprendizado naquele dia em tão poucas palavras, em apenas uma frase capaz de suscitar uma tremenda reflexão em mim.

Isso já faz alguns anos, justamente quando eu estava terminando meu primeiro curso de graduação e naquele ímpeto ainda juvenil com o pensamento de transformar o mundo seja lá como for quase caio nessa armadilha do “imbecil acadêmico”. E até hoje há em mim sempre essa reflexão toda vez na qual ouço alguém falar algo que destoa da língua portuguesa formal, no entanto, dentro do contexto geral não há quebra na comunicação.

Quão linda é a língua portuguesa formal, sobretudo as suas variações linguísticas e os chamados "erros de português”, talvez estes sejam tão mais garbosos e factíveis de serem estudados.

Que o meu “academês” sirva para a comunicação entre os pares da academia e até mesmo com gente “metido a sabido sem ser”, mas que a comunicabilidade do português informal seja o meu maior caminho para a comunicação com pessoas simples como essa senhora da estação de ônibus e tantas outras que não tiveram o mínimo de oportunidade na vida com relação aos estudos formais como por exemplo, a minha avó, porém em suas formações de vida tem tanto ou mais saber quanto a mim ou qualquer doutor acadêmico, pois saberes não se mede, saberes se vive.

Enquanto isso “nós vai vivendo sem muito pobrema porque nós não é sabido, mas nós pode ser sábio no que sabemos fazer”.

 

Joel Marinho
Enviado por Joel Marinho em 22/12/2024
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