A SALA DE AULA, UM LUGAR PERIGOSO, SOBRETUDO AOS PROFESSORES
POR JOEL MARINHO
Foi-se o tempo em que a sala de aula era um lugar seguro, o professor uma figura respeitada e a maioria dos alunos queriam entender os conteúdos apresentados, pois estavam interessados nos concursos vestibulares disputados ao extremo porque só havia cursos nas Universidades Federais e Estaduais, inclusive, quando havia algum “engraçadinho” querendo atrapalhar o andamento da aula os próprios colegas se encarregavam de expulsar de sala.
É, mas os tempos mudaram, e hoje o que se vê é uma falta total de educação por parte da maioria do alunado. São jovens e crianças mimados cheios de razão e sem nenhum limite, pois não entendem a frustração do NÃO, querem tudo na hora e no momento que pedir, visto terem sido desde muito pequeno moldados assim. Falam palavrões, não reconhecem hierarquia e se forem punidos o mundo se acaba, chamam os pais que ao invés de limitar os “alecrins dourados” acabam se unindo a eles para achar um culpado pela falta de educação (o professor), por vezes já ocorreu de pais e alunos irem as vias de fato contra professores e gestores escolares porque o filho foi punido por seus erros.
Quanto ao professor, é cada dia mais nítido o adoecimento, além da sobrecarga de trabalho, muitas vezes tendo que estar em três escolas diferentes em dois ou três turnos ainda há a sobrecarga emocional, pois já tem medo de falar qualquer coisa que possa se tornar um fator de perseguição. Já se ver no semblante dos professores a frustração ao sair de sala quando algumas turmas estão fazendo qualquer coisa, menos prestando a atenção ao conteúdo ministrado.
E não é fácil, buscar formas diferentes de passar o conteúdo, perder tempo muitas vezes em momentos que poderia ser lazer para ver seu trabalho sendo jogado no ralo, por vezes o professor se sente um monólogo em sala, mesmo com mais de quarenta alunos as paredes têm mais ouvido que eles.
Aí vem as novas propostas da educação que diz: “Professores, vocês precisam mudar suas práticas pedagógicas para chamar a atenção dos alunos”. Sinceramente, não sei mais de que forma essas propostas pedagógicas querem o professor. Um professor ou um fazedor de stand up? Um palhaço que faça o aluno rir e sentir atração pelas aulas?
A frustração é muito grande e todos os dias vemos cada vez mais colegas buscando serviço terapêutico ou se acabando tomando remédio tarja preta para vencer a ansiedade e a depressão que o consome.
Quanto professor, digo, amo muito minha profissão, mas ultimamente já venho traçando novos caminhos e pensando em sair desse barco que anda à deriva, já me preparo para saltar no próximo porto. Não quero acabar igual a muitos colegas afastado pela síndrome do pânico ou em profunda depressão tudo porque lutaram para dar o melhor e no final foram abandonados à própria sorte.
Já não vejo mais tantas perspectivas para o futuro dessa profissão tão nobre, porém tão maltratada. Em um país onde um “influenciador” que nem sabe o que fala ou faz uma dancinha cretina quaçquer é visto como um deus, enquanto o professor é tratado como um lixo é de se notar uma enorme decadência mental.
Enquanto isso vamos tentando literalmente sobreviver aos caprichos de moleques mimados, por vezes filhos de pais sem noção e um estado inerte.
Que os deuses da educação nos protejam, se é que eles já não deram no pé e se mandaram em outro barco ao ver nosso barco afundando. Por vezes penso que até eles nos abandonaram, pois a sala de aula ficou desprotegida e acabou se tornando um lugar perigoso, sobretudo aos professores.